segunda-feira, 30 de julho de 2007

CULTURA E LIBERDADE


Saber é muito importante, mas saber o quê?
Dentro de um sistema de vida como o nosso, fruto do acúmulo de experiências seculares e de sapiencias milenares, muitas e tantas culturas se mesclaram, se fundiram e evoluiram. Evoluiram para onde e de quê forma?
Num mundo em que tradições parecem se chocar frontalmente com uma imensidão de valores descartáveis, meramente consumistas, onde foi parar a cultura? Como saber que se tem cultura, será que é importante ser culto?
Sim, a cultura tem vários tons, se extratifica em várias camadas, do popular ao erudito do folclore ao clássico. Que tipo de cultura você produz ou consome?
Ser livre e ter possibilidade de consumir cultura não significa necessariamente que se tenha noção daquilo que se consome. Muitas vezes somos "seres no notion" (inclusive o Mano Changes se elegeu deputado aqui no Rio Grande com o slogan: não vote em candidatos no notion). Não sabemos o que consumimos e, sendo assim, que liberdade efetivamente temos? O signo de Aquário nos fala de cultura, de ecologia, de convivência coletiva, de amizade. Que bom será se a Nova Era nos trouxer uma nova consciência de cultura, a capacidade de resgatar a liberdade de saber-se culto, de realmente ter noção do seu próprio consumo e daquilo que , a partir deste saber, possa ser produzido como cultura. A questão aqui é que tudo que se produz está dentro de uma cultura mas , nem tudo que se produz é cultura.....ou vice versa, é meio dialético esse negócio.
Se não temos senso próprio somos facilmente influenciados pelo meio chegando muitas vezes a sermos engolidos pela cultura, perpetuando algo inconscientemente, mantendo vivas determinadas atitudes mecanicamente sem o devido questionamento enriquecedor., às vezes omitindo-se a própria capacidade individual de contribuir na formação crítica desta mesma cultura.
É possivel que a liberdade demore bastante para chegar porque exige um trabalho anterior de auto-análise e de busca interna para que se possa identificar o que realmente impede a minifestação da nossa liberdade pessoal. Também ter um interesse real em ser livre, descondicionar-se das recompensas ou de esperar um mero reconhecimento das imitações bem feitas. Demora esse processo.....em qualquer lugar que se vá, do metrô ao aeroporto, do mercado público ao teatro municipal percebe-se a pasteurização cultural acontecendo tanto no comportamento das pessoas como nos eventos e produtos oferecidos.
Dói o mecaniscismo, dói o zumbitiamento coletivo, dói o desperdício de materias primas para a produção sem fim de quinquilharias fúteis......dói! E dói também o apego a um eruditismo babaca e podre que já perdeu todos os sentidos do senso de importância. Há que se ter "classe" , nem que seja para atirar na cabeça de quem não sabe mais gritar e já nem se desespera mais!!!
É preciso agradecer muito , rezar muito, quando se tem capacidade de escolha e de discernimento........agradecer muito porque facilmente podemos perdê-la, sim , ela vai embora, escoa das mãos como areia e voltamos a repetir padrões viciados!!
Ai, ai....mas é bom quando se sente um pouco de liberdade.....é bom para a cultura, ou é bom quando se busca um pouco de cultura real , daí talvez a liberdade real também apareça ..........engrandece a alma.....que não é pequena!
Eduardo Krug

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Contos astrais: Peixes

Nivaldo Pereira - nivaldope@uol.com.br

Mais uma taça de vinho. A quarta. É sempre assim, neste mesmo bar: você acha demais pedir uma garrafa inteira de vinho, mas bebe taças avulsas o suficiente para encher duas garrafas, ou mais. Tudo bem, irmãozinho, esse é só um dos seus inúmeros auto-enganos. Vamos lá, pegue o bloco de papel na bolsa de lona e comece a escrever. Você prometeu que desta vez iria registrar a onda de sentimentos tão logo ela se instalasse. E ela já está aí, lhe deixando assim, com esse ar apatetado, achando mágico o ambiente enfumaçado do bar. Você é indiferente ao samba de má qualidade que o cantor faz ecoar e aos requebros sem estilo dos que não sabem sambar. São todas tentativas de ser feliz, e você compara esse alarido entre a névoa dos cigarros a uma sinfonia sublime. Mas agora escreva, por favor.
“Senhor Deus dos desgraçados! Tomo emprestado o brado do poeta de outrora porque me falta a oratória necessária para te invocar. Sei que deve ser heresia dar um tom de oração a esse desabafo meu, que reconhecidamente surge alimentado da minha embriaguez, mas é que nunca me sinto assim tão perto de ti, Senhor Deus, quanto nessas horas em que a consciência se dilui no torpor da taça e eu me percebo irmão de toda essa gente. A vida ordinária corre e escorre lá fora, no bater dos relógios, na velocidade dos automóveis e na pressa das pessoas, enquanto aqui, entre companheiros de êxtase, eu entro numa dimensão que sei profana, mas que, paradoxalmente, me revela tua face, ó Deus. Meu coração se inunda dessa alegria estranha, feito um estar à vontade entre sofredores, numa sintonia que por si só já atenua as dores de cada um. Sei que meu maior pecado talvez seja esse, o de me sentir bem em meio ao que o mundo repudia, aqui nesse universo paralelo de bêbados, viciados, solitários, rejeitados e frios de afeto...”
“Repara, ó Deus, a beleza doída de cada filho teu, nesse cubículo que os de lá de fora chamam de antro. Cada semblante carrega uma tristeza, e essa tristeza espelha toda as dores do mundo. Mas aqui não há pranto, ao menos hoje, ao menos agora, no embalo dessa música e desse vinho. Porque cada um de nós procura resistir, buscando uma luz qualquer, um bálsamo de anestesia que prometa um paraíso longe ou perto. Eles me deixam em paz, porque sabem que sou um deles. Devo parecer um pensador excêntrico, um intelectual desiludido, daí meus apelidos de mestre e professor. Muitas vezes, e sabes disso, Senhor, varei madrugadas com alguns deles, inebriado de venenos, recusando o dia nascente e eternizando o brilho de uma paz que sabemos ilusória. Sei que sou fraco e por isso me culpo. É nessas horas que me flagelo, quando me percebo sem forças e me puno por isso. É quando vejo minha mãe trabalhando, mesmo aposentada, como enfermeira, gastando suas noites a cuidar dos doentes no hospital e rogando a Deus que esse filho cruel tome jeito e deixe de se destruir. Merda! Já me disseram e eu mesmo sei: não mereço a mãe que tenho. Talvez também não mereça o pai que nunca tive. Nem meu irmão distante. E nem a mulher que ainda amo e que me deixou por não suportar minhas fugas ao reino das fraquezas humanas. Garçom, careço de outra taça, urgente! Preciso de um tempo.”
“A taça é mulher. As formas arredondadas, a abertura para a boca, o deleite. Taça é fonte do néctar de Dionísio, a abrir portas no invisível. Desçam os deuses, os orixás, e venham rodopiar, brindar nessa festa de todos. Júlia está linda hoje. A noite terminou cedo para ela, deve ter sido culpa da chuva. Júlia confia em mim, me beija na boca sem desejo. Tem uma cicatriz no pescoço: navalha de um antigo cafetão. Ela volta feliz do banheiro, limpando o nariz, sorrindo para o Pimenta, sinal de aprovação. O Pimenta sempre aparece no bar por essa hora, trazendo o alimento dos desesperados. Não, Pimenta, hoje não. O vinho me basta. Outra taça, Jorge. Entra Liz, de penteado novo, me jogando um beijo. Liz tem sexo indefinido, ou todos os sexos do mundo, como ela gosta de dizer. Certa vez me pediu um poema para ela. Eu fiz. Um acróstico, de três versos. Disse que ia emoldurar. É bom esse vinho. Talvez eu dance um pouco, mas bebi pouco para tanto.”
“Crazy acena. Ele canta na noite, acabou o show por lá, e sempre vem bater aqui, na igreja final de todos os bêbados. Crazy lembra Lou Reed. Já pedi que ele aprendesse a cantar Perfect Day, mas disse que inglês é complicado. A fauna se renovou de repente. Foi embora a primeira leva. Daqui para adiante é a escória, a catrefa, o lixo, a gentalha, as moscas de todos os botecos. Eu me sinto em casa, entre os meus. Tenho em mim um pedacinho de cada um desses miseráveis. Baixa uma neblina lá fora. As luzes embaçadas lembram peixinhos coloridos num aquário. Esse tipo de clima me deixa confortável. Confortable Numb, como diria o velho Pink. Nessas horas me baixa o poeta. Luz de Liz é mais embaixo. Era assim o primeiro verso do tal acróstico. A saideira, Jorge. Creo que estoy borracho. En estas ocasiones me gusta hablar español. Ahora soy feliz. Sei quem sou. Sou todo mundo. Vejo Deus na cara de Júlia. No desalento crônico de Crazy. Na benemerência nociva do Pimenta. Chega! Blasfemo blasfêmias. A saideira, Jorge. NÃO. Pelo Senhor Deus dos desgraçados, chega!”
Chega mesmo, irmãozinho. Pendure a conta e saia, antes que ceda ao apelo tentador de se inebriar ainda mais. São quatro quadras até em casa. Vamos andando na bruma. Volte a imaginar que conversa comigo, seu gêmeo que se retirou do mundo para um mosteiro do Nepal, seu irmão que lhe protege. Pense na mãe. Pense em mim, seu anjo da guarda. E vá dormir em paz. Sua alma é boa, você sente isso. E ainda aprenderá a suportar o esplendor dolorido dela. Agora caminhe devagar, sem tropeços. Quem sabe amanhã mesmo seja um bom dia para voltar a pintar.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Literalmente - Separados pelo casamento - um desnudamento de Plutão na casa 7


Ontem sob uma Lua em Libra meu marido e eu vimos o filme Separados pelo casamento, The Break-up no original, uma produção de 2006. Se você ainda não viu e quer ver, não leia este texto!

O filme, sob a roupagem de uma comédia romântica, mostrou-se na verdade bem real. A história começa mostrando que o casamento de Brooke e Gary, juntos há dois anos, está por um fio.

Gary é o parceiro que não está muito afim de cumprir com as "difíceis tarefas caseiras" e, totalmente empoderado, chega em casa, liga a TV, joga videogame e toma uma cerveja, enquanto Brooke, apesar de também trabalhar fora e de ter limpado sozinha todo o apartamento, está fazendo um jantar para receber familiares e amigos de ambos.

Brooke trabalha em uma galeria de arte e tem como chefe uma poderosa mulher, Marilyn Dean. Gary trabalha em sociedade com os irmãos, numa empresa da família que realiza passeios turítiscos de ônibus em Chicago. No trabalho, a relação que ambos têm no casamento se reproduz. Gary diz ser o talento da firma e não chega nem perto das tarefas "mais chatas". Enquanto isso, Brooke, assim como no casamento, tem uma relação de total submissão com a sua chefe, e fica tentando contornar os mínimos problemas para não incomodá-la. Retrato claro da má distribuição de poder na relação dos dois que se reflete nas suas parcerias de trabalho.

Mas é nessa na noite do jantar que Brooke começa a mostrar os sinais da explosão que está por vir e, num fôlego só, tenta expor a Gary a sua falta de atenção com ela, o seu descomprometimento, o seu egoísmo, etc. Apesar de se amarem, os dois não se entendem. Quanto mais ela explica, menos ele a ouve e mais acha que as reinvidicações dela são absurdas. O casal está totalmente surdo um para o outro. Gary se coloca na defensiva e diz que Brooke só o critica e nunca deixa ele fazer o que quer como, por exemplo, ter uma mesa de bilhar em casa. A situação só piora e Brooke rompe o casamento. Gary não acredita e tenta se vingar: quer ficar com o apartamento e ainda exige uma multa por ter sido deixado. Mas Brooke não dá o braço a torcer, e os dois continuam morando juntos até venderem o apartamento.

Assim, até a venda pode-se assistir a todos os jogos e encenações que Brooke faz para tentar provocar ciúmes em Gary e, dessa forma, na cabeça dela, reaproximar-se dele. Gary, por sua vez, assiste a tudo com uma indiferença forjada. Brooke, numa última tentativa de reconciliação, arma mais um joguinho pelas beiradas e o convida para um show. Gary não vai, pois não entende o jogo. Ela volta pra casa e pela primeira vez mostra seus sentimentos e chora. Gary começa a entender alguma coisa e no outro dia prepara um maravilhoso jantar para ela. Mas ela, diante de uma mesa impecavelmente posta por ele, se dá conta que não tem mais nada para dar, e entende que apesar de todas as tentativas de manter o relacionamento, algo realmente se quebrou, rompeu. E assim ela decide que irá viajar por um tempo.

O apartamento, depois das duas longas semanas, é vendido e, diante da inevitabilidade da separação, os dois começam a se desnudar junto com ele. Quando o vêem totalmente vazio, Broke confessa a Gary que com boa vontade dela teria dado para pôr uma mesa de bilhar ali. Gary começa a perceber o seu egoísmo e os dois sem mais nada a se apegar finalmente conseguem se ver.

A partir dessa visão algumas coisas começam a mudar. Gary passa a fazer a parte "chata" do trabalho na empresa dele e dos irmãos. Brooke avisa a chefe que está se demitindo. Marilyn Dean a oferece mundos e fundos para que ela não vá, mas Brooke mantém a posição e descobre impávida que a chefe só a controlava porque ela deixava. No final, Marilyn Dean ainda lhe dá dicas para a viagem e diz que as portas estarão abertas para quando ela quiser retornar. Talvez aí Brooke tenha se dado conta do seu medo de negociar e de como já deixava tudo pronto para o outro em função desse mesmo medo.

Gary segue sua vida e expande seu negócio com os irmãos. Agora, a empresa comanda passeios turísticos também pela água. Gary, numa das suas atuações frente aos turistas diz: Esta é Chicago, uma cidade que foi inteiramente destruída por um incêndio em 1871, mas que foi contruída em cima das ruínas e surgiu ainda mais forte! Possivelmente aí se encontre uma grande metáfora ao relacionamento de Brooke e Gary, pois Brooke, depois de um tempo, retorna a Chicago e, no final, o ex-casal do filme se encontra casualmente. Ambos mudados, separados pelo casamento, é verdade, mas possivelmente mais individuados e quem sabe prontos para uma nova e mais justa relação, depois dessa transformação plutoniana necessária.

Curiosidade: durante as filmagens, entre Julho e Agosto de 2005, Jennifer Aniston, a Brooke, enfrentava o fim de seu casamento com Brad Pitt. Segundo ela, o filme a ajudou a superar a dor da separação e, além disso, possibilitou que ela conhecesse o seu atual marido, Vince Vaughn, o Gary do filme!


Por Daniela Scheifler - Baile no Céu

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Contos astrais: O escorpião

Nivaldo Pereira - nivaldope@uol.com.br

Pouco depois de abrir o velho chalé da família e escancarar as janelas para ventilação, Corina acompanhou da sacada a partida do carro. Paulo ia guiando. Ceres não tinha carteira de habilitação e precisava esperar por Ademar, o namorado, que chegaria em instantes na rodoviária de Canela. Corina estava curiosa em conhecer pessoalmente o rapaz que fisgara o coração da sua melhor amiga. Certamente seria divertido este final de semana serrano, ainda mais com um providencial friozinho em pleno novembro. Se ela gostasse do Ademar, e se ele e o Paulo se dessem bem, quem sabe poderiam ser ele e a Ceres os padrinhos do casamento anunciado para o ano seguinte. Uma rajada de vento frio indicou que a noite chegava. Resolveu pegar lenha no porão, porque lareira acesa seria fundamental nesse astral esperado de amigos em festa.
Abriu a porta do porão e sentiu o bafejo bolorento de lugar fechado sem sol. Quando criança, morria de medo de descer sozinha ali. Mas um dia, já adolescente, discutiu com a mãe e, tomada por uma raiva surda, foi se abrigar exatamente no breu úmido de debaixo da casa. Ficou lá durante horas, inerte, ouvindo o chiar dos camundongos e os passos dos pais lá em cima, preocupados com o amuado desaparecimento da filha. Quanta bobagem! Mas pelo menos enfrentara o medo do porão. Agora o interruptor no topo da escada não obedecia ao seu comando. Lâmpada queimada. Onde haveria outra? Haveria outra? Pensou na lanterna do pai, na cozinha. E foi assim, de lanterna acesa em punho, que Corina avistou a pilha de lenha no meio das tralhas do cubículo. Encheu a cesta de vime com a madeira cortada, cuidando de focar bem a luz da lanterna para não ferir a mão. Foi quando avistou uma sombra se mexer por entre as achas, pequena, mas veloz. Afastou-se a tempo de reconhecer um escorpião avermelhado sumindo para debaixo da pilha de lenha. Ela subiu correndo a escada, fechando a porta com estrondo. No dia seguinte, o Paulo daria um jeito naquele invasor...
Mal chegou na sala e já ouviu a voz do noivo: “Cori, chegamos”. E a Ceres: “Vem conhecer o Adé”. Ainda tremia no peito o susto com o escorpião, e talvez por isso ela jamais esperasse um outro baque em seqüência, quando o coração quis ir à boca. Meu Deus! Era ele! Sim, o mesmo cara! Aqueles olhos pretos, inconfundíveis, mesmo agora, tantos anos depois... Sentiu naquele olhar intenso de outros tempos que ele também a reconhecera. Ela se controlou o mais que pôde e estendeu a mão, dissimulada: muito prazer, a Ceres fala de ti o tempo todo, é Adé pra cá, Adé pra lá, que bom te conhecer, a casa é de vocês. Lá dentro dela, um vulcão de estranheza, uma frieza defensiva. Um segundo, ou nem isso, e já gozando de sua condição de futuro anfitrião, Paulo puxou Ademar pelo braço e o conduziu ao quarto de hóspedes. Toda cúmplice, Ceres se chegou à amiga: “Não te falei que ele é magnético? Notei que ele te deixou sem graça, Cori. Ele adora fazer isso...” E soltou uma risada de menina grande.
Cori farejou que aquela noite seria intensa. Fechou-se no banheiro e a memória refluiu. Ali mesmo, em Canela, casa de uma amiga, festa adolescente, quantos anos tinha?, catorze?, ele tomando Coca sozinho no jardim, do lado do grande balanço. Os olhos. Ele fixa nela, encara, não entrega. Ela gosta. O aceno com o balanço. Original. Ela vai. Eu te balanço. Devagar. Pouquinho mais forte, pra ver de cima? Assim tá bom, tá bom. Mais devagar, por favor. Assim não, vou descer. Chega, por favor. Pare, pare. Chega, a corda vai partir, posso quebrar o pescoço. Vou gritar por socorro. Mas e se os pais vierem correndo, como explicar?, por que aceitara ser empurrada por um desconhecido? Impulso louco de soltar as cordas e cair. Queda fatal. Morrer de vergonha e de raiva e ainda matar de remorso esse infame. De repente, ele a ampara, cessando o balanço com um abraço. O olhar. Calor. Ela o empurra, furiosa. Corre para casa. Dias de terror. Ou seriam dias de fascínio pelo menino louco, sem nome? Entocada em casa. Sai desse quarto, guria. Briga séria com a mãe. O refúgio no porão, apesar do medo. Horas de frio, horas infernais. Sim, onze anos se passaram. Agora ele é o Adé, o tão falado cirurgião namorado da amiga Ceres e que viera de ônibus de Porto Alegre.
Logo mais, fogo aceso, o vinho bateu forte para ela já na segunda taça. Ceres e Adé se beijavam na sacada. Paulo cozinhava. Ela arrumava a mesa. Algazarra no jantar. Tudo muito rápido. Ou seria a embriaguez? Olhares furtivos. Olhos negros que ainda gostam de encarar. Amiga de pileque, palhaçando a mesa com piadas. Noivo de platéia. Ela enlouquecendo: a antiga ferida, restos de pânico, um ódio guardado, e uma fissura descabida por aqueles olhos de comprovada crueldade. O fogo baixou na lareira. Paulo foi buscar mais lenha no porão. Ceres servia vinho. Ademar acariciava o cabelo da namorada, mas num canto de olho... Desgraçado! Como pode fazer isso? Paulo falou algo lá de baixo, mas ela não escutou, de tão tomada pelo clima algo sórdido da mesa de jantar. O noivo voltou com um feixe de lenha nos braços, comentando a luz queimada. Só aí ela lembrou do escorpião. E se o bicho tivesse atacado o Paulo?
O sangue em suas veias alternava correntes quentes e geladas. Nunca sentira algo assim? Ou já sentira? Alegou sono, vinho forte, cabeça rodando, e foi deitar. E ficou no escuro do quarto, olhos arregalados, ouvindo as risadas da Ceres e um ou outro timbre do Paulo. Nem sinal da voz do caladão Ademar... Uma hora depois, quando Paulo veio deitar ao seu lado, ela o agarrou de súbito com um misto de desejo e grosseria, unhas e dentes, feito pantera no cio. Agiu com uma intensidade e uma desenvoltura nunca demonstradas em anos de relacionamento. Ele brincou: “Vou comprar mais desse vinho...” Ela ficou quieta, preocupada. Ainda haveria o sábado e o domingo na mesma casa que o Adé... E havia um escorpião no porão...

terça-feira, 17 de julho de 2007

Feminino Câncer


Que é da mulher essa benção
ser útero do mundo
gerando os filhos do ventre
dos desejos e intuições
nas luas e ciclos
hormônios humores
Isabel Mueller - Astróloga, Poetisa

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Águas Cancerianas........


De dentro das águas cancerianas
sente-se tudo
tudo se sente
E como anda a casa?
E como respira o pulmão?
Morrer não é tão simples
mas também não é o fim do mundo
nem é
o fim
E o mundo? Câncer diria Moondo.....
A Lua reflete o fundo do mundo
Moon, moon, moon
As coisas , as....questões, estão a flor da pele
....que qualquer beijo de novela me faz chorar.....viva ZecaB.
ver o que sempre se via quando se sentia
ver de novo, uma nostalgia do que já se via......se tinha visto
tinha visto......paralisei de compreensão naquela época......
tudo volta , tudo de novo vem
de novo
ser tocado por lembranças novas......daquilo que já compreendi em tempos atrás
ser tocado
toca-se uma música, ouve-se um novo som muito antigo!!
Câncer quase não toca..... para não quebrar o toque
...e o que há de maior ou menor que um toque?...dá-lhe lembrança dos primeiros toques
as raízes crescem para baixo
mas embaixo pode ser bem em cima
Quando a alma respira o recheio está presente!

Eduardo Krug - duastro@terra.com.br

sexta-feira, 13 de julho de 2007

A Vênus põe os pés no chão

A partir de amanhã a Vênus já não dança mais com Saturno em Leão no Baile do Céu, pois
cansou de brincar e volta agora para os seus afazeres diários.
Tudo pede cuidado, análise e precisão.
Tímida, agora a Vênus põe os pés no chão
e lembra dos excessos cometidos lá em Leão.
Ah, mas não pensem que ela está triste não...
o prazer dela agora está no detalhe, na minúcia e em
arrumar a confusão.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Contos astrais: Caranguejos

Por Nivaldo Pereira - jornalista e astrólogo - nivaldope@uol.com.br

Enquanto esperava sentada sua vez de ser atendida, tentava descobrir que encomenda seria aquela, sobre a qual recebera um aviso do correio. De olho no número da senha eletrônica, divagou sem perceber no sonho que tivera. Era noite, estava numa praia, ou rio, de mão dada com um homem alto, muito alto (quem era ele?), quando se via rodeada de caranguejos, todos em posição de ataque, pinças levantadas e aquele peculiar caminhar de lado, traiçoeiro. Em pânico, ela tentava subir no corpo do homem, mas ele afundava na areia fofa, até desaparecer de vez no chão. E aquele exército de caranguejos ali! Acordara aflita. Por que tanto medo de caranguejos? Quando vira o primeiro, assim, ao vivo, já era uma adolescente, mas o pavor era bem mais antigo, talvez fruto de alguma memória perdida no profundo do seu poço íntimo.
Assustou-se com um toque em seu braço. Era um ex-aluno, sentado na fileira de trás do espaço de espera do correio. Ela sorriu, dizendo oi, bom te ver. Um garotão inteligente e sensível, que adorava história antiga. Lembrou do intervalo de uma aula, no ano anterior, em que esse rapaz de olhos sempre úmidos trouxera uma gravura egípcia, reprodução de um papiro com um escaravelho, em busca dos significados daquele símbolo. Dissera ele que sonhara com aquele bicho, por isso queria saber tudo sobre o assunto. No dia seguinte ela entregara a ele cópias de páginas de livros sobre mitologia egípcia. E desde então passara a vê-lo com uma cumplicidade afetiva, quase como a um filho. No visor, viu acender o número de sua senha. Disse tchau ao rapaz e dirigiu-se ao balcão.
Entregou ao atendente o aviso recebido e a carteira de identidade. Ele voltou logo com uma caixa pouco maior que uma de sapatos. Em letra tremida, mas caprichada, no destinatário estava escrito Celene, e não a grafia certa, Selene. No remetente, a surpresa: Margarida Sampaio, a madrinha de crisma, de quem não tinha notícias há anos. Assinou o recibo e saiu ansiosa em direção à casa, louca para abrir o pacote. Dinda Margô! Ainda estava viva. Como soubera seu endereço? Saiu do elevador já tentando arrancar com as unhas as fitas adesivas da caixa. Em poucos minutos, estava tudo desempacotado, em cima da mesa: uma toalha redonda, feita de fuxicos coloridos (Dinda Margô era uma artesã!), uma carta e um velho álbum de fotografias. Indecisa se olhava primeiro as fotos ou se lia a carta, abriu o envelope, sentindo certo frio no estômago, e sentou-se na poltrona.
A madrinha demorava-se em preâmbulos, dizendo que sempre quisera falar a verdade a ela, desde a morte da mãe, há anos, mas que somente agora se sentia na obrigação de relatar tudo, por causa da notícia que havia recebido. “Soube que seu pai morreu no começo deste mês”. Como assim? “Eu jurei para sua mãe nunca falar nada, mas agora nem ela e nem seu pai estão mais entre nós, então devo revelar.” Deus! O que é isso? “Você, que estuda história, tem o direito de saber, e não posso morrer com esse segredo. Seu pai não morreu atropelado quando você era pequena.” Que piada é essa? “Ele abandonou sua mãe e você, para viver com outra. Foi quando sua mãe veio com você morar aqui na cidade, onde não conhecia ninguém, só a mim. Ele era um caminhoneiro, vivia viajando. Sua mãe temia que você sofresse mais com o abandono e preferiu falar em morte.”
Lágrimas automáticas despencaram sobre o papel e ela parou de ler um instante. Isso não podia ser real! Devia ser alguma novela barata da televisão! As mãos tremiam segurando a carta. A madrinha falava a seguir nos retratos, que a amiga pedira para ela guardar, pensando em um dia contar toda a verdade à filha, mas morrera sem tomar essa decisão. Trêmula, abriu o álbum. Muitas fotos do casamento dos pais. O pai! Nunca tinha visto sequer um retrato dele. Era um homem bonito, de sorriso aberto. Outras imagens: o casal numa praça, o pai segurando um bebê: ela? E uma última foto, que a deixou mais perturbada: o pai na boléia do caminhão, ao lado de uma menininha, de um ano ou dois (ela! ela!), segurando a bola de acrílico da marcha, onde claramente faiscava a imagem de um pequeno siri...
Veio-lhe à mente o sonho, os caranguejos, o medo. Que dia louco! A história de sua vida tinha virado pó a partir do conteúdo de uma caixa inesperada. Guardaria ela no inconsciente a lembrança daquele siri na bola transparente? Teria irmãos, por parte desse pai que nunca conhecera? Como lidar com tantas questões, tanta emoção que ameaçava romper um dique oculto dentro de seu peito? Isso: chore, amiga, chore feito criança abandonada. Depois você pensa no que fazer com esse novo passado e com o seu futuro. Agora, apenas chore.



MENINO DEUS - MERCÚRIO

A Av. Getúlio Vargas faz a ligação entre a Cidade Baixa e o Menino Deus, do restaurante Copacabana em frente a Praça Garibaldi junto à Av. Venâncio Aires até a Av. José de Alencar , demarcando junto com esta os caminhos do bairro. O Menino Deus me parece bem um bairro de classe "média média" já indo em direção a média alta. Tem cara de classe média, ar de classe média. Soa como viável, organizado, limpo, arborizado e com muitas opções de consumo, bons restaurantes, bons prédios, barzinhos comportados e tem uma de suas ruas ligando os dois clubes mais populares da cidade, dois estádios de futebol, que, afinal, é o esporte nacional.
Além disso o bairro possui o Parque Marinha do Brasil, talvez o mais esportivo da cidade.
Sim, vamos encontrar prédios luxuosos, boas residências, um grande complexo hospitalar como o Mãe de Deus de alto gabarito, mas isso não tira do Menino Deus a sua condição, o ar de classe média.
O quê, em astrologia, configura esta classe média, o remediado? Quais arquétipos, qual planeta e em que Signo? Quando imagino isto, descarto Leão e Sagitário detentores de pompa e erudição. Deixo de lado a aristocracia de Libra e o planeta Vênus ou a solidez materialmente segura de Touro. Não penso muito em Aquário e seu desapego, nem no ar empresarial dos Capricornianos sempre envolvidos em projetos mais arrojados.
O que me vem à mente é Mercúrio, Gêmeos e Virgem e talvez um pouco de Marte e a sua autonomia. Mercúrio tem aquele tom de "remediado", de solto, negociante que se deu bem com suas próprias mãos e a sua cabeça privilegiada. A figura que circula em todos os meios e contata "Deus e todo mundo".
Neste bairro todos sentem-se bem, não há aquele constrangimento que acontece quando se circula por um bairro "chic", será que tem alguém me observando? Ou por um bairro mais pobre com favelas, uma vila popular onde nos alteramos desconfiados da própria sombra.
O Menino Deus ...é bom! Difere da Cidade Baixa, da Praia de Belas, do Bonfim que se caracterizam pela noite efervescente, pelos estudantes e pelos bares.
Por aqui a questão é trabalho , saúde, esportes e isso me sugere Virgem. Tem a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado (Demeter/Ceres gostaria de morar por aqui) e o Hospital Mãe de Deus, um dos mais bem equipados da cidade. Quem caminha pela Getúlio sente este clima Mercúrio em Virgem, fruteiras, quitandas, restaurantes, armazéns que continuam pela José de Alencar, aquela que faz a ligação entre os 2 times rivais da capital.
Pode-se dizer que vibrações de Marte e Peixes se fazem sentir por ali também. Esta questão esportiva do futebol jogado com os pés (peixes) e entre um time vermelho (ariano) e outro azul (virginiano) este eixo Peixes/Virgem está aí junto com a energia marciana.
Então Mercúrio e Marte trazem esta relação de autonomia e liberdade pelo exercício do próprio trabalho, uma característica da classe média ou daquelas pessoas que estão trilhando o "caminho do meio", nem tão ricas nem tão pobres....mas com uma certa liberdade trilhada pelas próprias forças. Viver os dois lados da moeda, às vezes a falta outras vezes a fartura, andar de ônibus muitas vezes e outras tantas com seu próprio automóvel ou ir a pé, não há problema em caminhar por aqui...faz bem para a saúde!!
Um bairro com nome de menino só pode sugerir Mercúrio o próprio Deus criança!
E a Mãe de Deus ...quem era? A Virgem Maria!!
Eduardo Krug - é Astrólogo e professor de Astrologia na UNIPAZ-Sul

Urano está em tudo, mas não quer saber de prosa


Urano está ai, está aqui .
Ai de quem espera um avião...
O raio trovão pega assim de supetão

Uns dizem: a bandidagem tá solta!
É verdade! Urano em Peixes soltou os "marginais"
E não há nenhuma represa capaz de segurar essa onda
O lance é aprender a surfar!
Descobrir o que há de marginal em você e ver o que é
o que já morreu e tá ali só criando mofinho.

Se você não sabe e não quer saber...hum, daí Urano vêm, e não adianta dizer:
Ah, mas assim sem avisar!
É que ele está em tudo, mas não está prosa!

Daniela Scheifler - Astróloga, licenciada em Letras e contadora de histórias - www.bailenoceu.blogspot.com/

O nascimento do Blog


Sol em Câncer na casa IX trigono Urano na V e trigono ascendente
Lua em Gêmeos na VII oposta à Júpiter
Ascendente Escorpião
Mercúrio em Câncer na VIII oposto à Plutão e sextil Vênus
Vênus em Leão entre X e XI conjunção Saturno e trigono Plutão
Marte em Touro na VI
Júpiter em Sagitário I
Saturno em Leão X trigono Plutão e oposição Netuno
Urano em Peixes na V
Netuno em Aquário na IV
Plutão em Sagitário na II

Plutão no centro da galáxia


Por Isabel Mueller - Astróloga - http://www.isabelmueller.com.br/

Estamos vivenciando o questionamento da realidade, das verdades, crenças, conceitos e conhecimentos.
Isto está simbolizado astrologicamente pela passagem de Plutão no signo de Sagitário.
Paradigmas estão sendo mudados, e necessitamos ampliar a visão da realidade.
E nada melhor para isso do que olhar a realidade interior, pois quanto mais sabemos de nós, mais conhecemos o mundo.
O ensinamento é compreender que criamos nossa própria realidade, e que só realizamos o que conseguimos vislumbrar. Se a mente é estreita, a realidade também o será. Se enxergamos longe, iremos longe.
Devemos nos comprometer com nossos sonhos e ideais, e confiar que somos capazes, ampliando o campo de percepção.
O ser humano transpõe grandes distâncias geográficas, mas não está conseguindo ultrapassar a sua distância em relação aos outros seres, e o abismo que criou entre o céu e a terra, entre a dimensão divina e a humana.
Não devemos nos esquecer de que somos seres espirituais vivendo uma experiência humana, e não o contrário...
As crises pessoais e coletivas que estão ocorrendo refletem a falta de um sentido, de um significado maior que resgate a conexão com o divino que o ser humano tinha anteriormente, quando as coisas eram mais simples, as pessoas tinham mais tempo, e os valores que importavam eram outros.
Quantos excessos e intolerâncias estão sendo praticados em nome de dogmas políticos, raciais, religiosos, e todo tipo de preconceito?
Há uma ânsia de poder, que subjuga pessoas carentes de rumo, que esperam que alguém ou algo instituído lhes diga o que fazer, em que acreditar, o que é certo, o que é verdade. Perdeu-se a confiança na sabedoria interior.
Está na hora de rever esses conceitos, e de passar a enxergar a realidade de um outro modo.
Ir além de nós mesmos requer um salto no desconhecido, esperança no futuro (que começamos a criar no presente), e comprometimento com os ideais e sonhos.
Novas visões de mundo, conhecimentos, ética e justiça se fazem necessárias.
Devemos parar de julgar, de ter “pré-conceitos”, de ver apenas uma parte da realidade, limitando o olhar.
Plutão está posicionado num ponto que denominamos de centro da galáxia, localizado a 26 graus do signo de Sagitário.
O centro da galáxia é um ponto de conscientização e de transformação.
Simboliza a oportunidade de ampliar horizontes, de ver as coisas de uma forma totalmente nova, acessando um saber que não é apenas racional, mas cósmico, herança de nossa origem divina.
É um momento de libertação de apegos, de formas, de pensamentos, de crenças e de verdades. Se resistirmos a essas mudanças, o processo será doloroso. Temos que redimensionar certezas, pois um novo universo se abre para nós.
Envolve uma mudança de paradigmas na ciência, nas religiões, na educação, nos aspectos culturais, ideológicos, éticos, jurídicos, e nas questões que envolvem viagens, fronteiras e grandes distâncias.
Significa também a conscientização do que é crescimento, e que este não é medido por poder, prestígio ou status.

Não aceite uma verdade imposta. Você tem sua verdade interior, e deve respeitar a alheia, e estar aberto para se surpreender com as revelações que chegarão por meio da intuição, dos sonhos, da própria realidade em transformação, e das aparentes coincidências, que a olhos atentos são sinalizadoras de rumos.
Tudo o que você precisa saber está dentro de você, mas é preciso silenciar, observar. Estamos tão voltados para a realidade externa, para a correria do cotidiano, que esquecemos do que é, de fato, “real”.
Sintonize-se com a sua verdade interior. Enxergue o que antes você não estava pronto para ver. É tempo de revelações que mudarão a realidade.