segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Agenda NEARS


Pegue sua agenda, seja de papel ou eletrônica e anote aí os próximos encontros do Núcleo de Estudos Astrológicos do Rio Grande do Sul

21 de outubro - Ceres - Focalizadora Sandra Santos. Local Rua Fernandes Vieira, 449/1201.

09 de novembro – Astroarte, às 18h30min, Filme "Ligações Perigosas" - Focalizador Eduardo Krug, na sede da UNIPAZ -SUL.

11 de novembro - Encontro do NEARS, na sede da UNIPAZ-SUL.

07 de dezembro – Astroarte, às 18h30min, Filme "Indiana Jones e a última cruzada" - Focalizadora Zilá Saldanha, na sede da UNIPAZ- SUL.

09 de dezembro - a partir das 16h - Festa de encerramento- Focalizadora Carmem Barros. Local Rua Fernandes Vieira, 181/801.

sábado, 22 de setembro de 2007

Contos astrais: O leão

Nivaldo Pereiranivaldope@uol.com.br

Sentiu outra vez a repentina pontada no coração, uma dor mais aguda do que a de ontem. Reclinou a poltrona e afrouxou a gravata, tentando respirar fundo e devagar. Percebeu que estava pálido pelo susto da secretária, quando esta entrou na sala para anunciar o começo da reunião. Ele disse que estava bem, que já ia, que não precisava de nada, que apenas o deixasse quieto só um instante. Mas ficou muito preocupado. Lembrou logo do pai e do tio – família de corações fracos. Não devia facilitar com isso: antes de sair, tomou coragem e ligou no telefone celular para um grande amigo, médico cardiologista. O outro exigiu vê-lo com urgência no horário de almoço, única brecha na agenda de ambos. Com o súbito ânimo de quem se percebe protegido, seguiu para a reunião, que não podia prescindir do devotado presidente da empresa.
Passava do meio-dia quando ele saiu do prédio. O sol a pino lhe ofuscou a vista. Esquecera os óculos escuros em cima da mesa! O relógio avisou que não daria tempo de almoçar em casa e chegar para a consulta. Pensando bem, era até conveniente não encontrar a mulher. Não queria se aborrecer de novo com a mesma questão. Telefonou com uma desculpa: almoço inesperado, executivos do Japão. Sem fome, mal entrou no carro para ir ao consultório do amigo, ouviu o celular tocar. Ele. Ia se atrasar um pouco, coisa de meia hora. O que fazer, então?, foi pensando, enquanto dirigia. Decidiu: caminharia um pouco sob as árvores da alameda onde ficava a clínica. Seria bom. Logo estacionou defronte e saiu a bater pernas, vendo o sol varar as folhas parcas do inverno, a luz mortiça irradiando uma vibração perigosa. Perigosa porque era impossível não pensar na causa de sua dor. O filho. Sua única cria. Justo ele! Seu ouro, seu tesouro, sua aposta, sua vida. Uma punhalada! Foi o que sentira no coração...
A alameda da memória fez ressurgir o menino louro, de sorriso irresistível em maçãs salientes e olhos amendoados. Um pequeno deus! Ele, o pai, tinha sido o chão sobre o qual brincara cheio de vontades esse ser iluminado. Presente dos céus: o filho mais lindo, mais magnético, de carisma absoluto. E, bênção suprema, o moleque adorava ir ao escritório! Amava olhar a cidade pela vidraça do quinto andar! Querido do pai, mimo de todos, corria livre por todo canto, até na sisuda sala de reuniões. Gostava de saber que aquilo tudo seria seu, ou melhor, já era seu. E o pai deixava de lado as resoluções importantes para ouvir o chamado insistente do filho a apontar da vidraça as miudezas da rua lá embaixo. Um presente de Deus! Por esse filho fez tudo. Concedeu todos os luxos, atendeu a todos os desejos. E por causa desse filho agora podia morrer! Oh dor! Se a vida humana é drama, nada além de tragédia, então ele agora sentia no peito a piada dos deuses. Seu tesouro era ouro de tolo!
Entregue aos pensamentos, nem notou que já caminhara por várias quadras. Estava bem em frente ao jardim zoológico. Ainda tinha tempo, por isso tomou o caminho de entre as jaulas dos bichos, embora soubesse que isso fatalmente o faria lembrar ainda mais do filho. Por que, meu menino? Por que você foi fazer isso comigo? Você cresceu dizendo que queria ser igual a mim. E eu fechava os olhos para seu cabelo louro comprido, suas tatuagens, sua guitarra barulhenta, seus deslizes. Você quis estudar para melhor administrar nosso negócio, e eu me senti nas nuvens. Aí, meu menino, agora você me diz que já tem 20 anos, que é dono do seu nariz, que minha vida é um lixo e que não quer viver na minha sombra. Como, meu filho, se eu é que gravitei em volta da sua luz? Você me avisa que abandonou a faculdade, que vai estudar teatro na Inglaterra... E me revela, assim, sem mais nem menos, na mesa do café, que ama outro homem e que vai embora com ele... E que sua mãe sempre soube disso e que o apóia... Você me traiu, meu filho!
Seguiu andando, alheio aos gritos dos macacos, no zoológico quase deserto daquela primeira hora da tarde. Quando deu por si, estava diante da jaula do leão. Dupla proteção, de arames e grades, encarcerava o tal rei das selvas. Na placa, o aviso de perigo e o nome científico: Panthera leo. O leão dormia, solitário, com o corpo estirado na magra nesga de sol que invadia a cela. A juba dourada, embora maltratada, ensaiava um ligeiro brilho nos raios de luz. Quanta crueldade!, pensou. Esse animal não nasceu para tamanha humilhação! E a juba... essa juba... qual uma loura cabeleira... De súbito, o choro lhe brotou da cara aos borbotões, sem óculos de sol para esconder. Deus, como se podia permitir uma violência dessas? Por que reduzir um bicho tão vistoso, de natureza livre, a um quadro tão deprimente?
Aquele leão... E ele caiu em si. Como podia prender o filho a uma vida que não era a que o rapaz queria mais? Que direito era esse, que ele chamava de legítimo amor? Estava aos soluços, quando o telefone tocou. O doutor chegara. Era hora de começar a se cuidar. Precisava viver muito ainda. Tinha um filho único a amparar. Um filho que o estava ensinando que amar também é dar ao outro a liberdade de ser sempre fiel ao próprio coração.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

MOMENTO ASTROLÓGICO - EQUINÓCIO DE PRIMAVERA

Sandro Botticelli - La Primavera

Texto de Lúcia D. Torres Astróloga, educadora e terapeuta, coordenadora do curso de Formação em Astrologia da UNIPAZ-SUL, diretora desta instituição e vice-presidente da CNA (Central Nacional de Astrologia).


No próximo dia 23 de setembro, às 06:52, estaremos iniciando mais um ciclo cósmico-astrológico da Roda do Ano com o equinócio de primavera. Na realidade, a cada estação, vivenciamos um sub-ciclo do ciclo maior que é o ano. A tradição astrológica orienta que se levante o mapa do momento exato do início do equinócio de outono como sendo o mapa do Ano Novo Cósmico (para o hemisfério sul) e que os mapas dos solstícios de inverno, de verão e o do equinócio de primavera sejam considerados como uma atualização do processo cíclico em desenvolvimento. A finalidade essencial desta observação é justamente refletir em que medida estamos (ou não) sintonizados e atentos aos ciclos celestes e terrestres que se manifestam no nosso cotidiano, codificados nas experiências que a vida nos oferece.


Assim sendo, sob o olhar astrológico, o ano realmente inicia quando o Sol, na sua trajetória anual, encontra-se no grau zero de Áries, em 20/21 de março ( e não na passagem do 31 de dezembro para 1º. de janeiro, como comemoramos desde a mudança de calendário instituída por Júlio César). Ao levantarmos o mapa deste momento, temos uma projeção das oportunidades e desafios coletivos que o ano vindouro nos apresenta. Podemos observar estas tendências sob vários enfoques, como, por exemplo, no âmbito da astrologia mundial (associada a questões econômicas e políticas). Vários astrólogos, como Barbara Abramo e Antonio Carlos Harres, se dedicam a isto.


Prefiro sugerir, aqui, uma reflexão mais ontológica, ainda que breve, já que o mapa do ano tem o ascendente em escorpião – é imperativo que nos debrucemos nos desafios cósmicos de transformar os nossos valores coletivos e a maneira como administramos os recursos gerados pelas parcerias. O planeta regente deste signo, Plutão, encontra-se no signo de sagitário na casa II – é imprescindível que façamos uma revisão de onde estamos fixados no nosso olhar, quais são os paradigmas que orientam as nossas escolhas, nossas crenças a respeito da vida e das pessoas, o que valorizamos (ou não).


Cada vez mais, precisamos da consciência de que somos todos membros de uma grande família planetária, onde não existem nem atos, nem sentimentos tampouco idéias isoladas ou inócuas e, sim, uma profunda e ampla interdependência e sinergia entre todos os seres vivos, incluindo os humanos.


Para quem não conhece a linguagem astrológica, sintetizo que as casas do mapa representam os cenários, as áreas das experiências que se apresentam; os planetas representam as diferentes dimensões destas experiências e os signos simbolizam a sua forma de manifestação.


Para um estudo mais pormenorizado e individual, sugere-se que a pessoa compare o mapa da estação (que apresenta as tendências do coletivo no momento) com o seu próprio mapa astrológico de nascimento. Assim, é possível particulizar de forma mais adequada o que se apresenta de maneira generalizada.


O tom do ano
No dia 20 de março, o mapa do Ano Cósmico nos apresentava o Sol e a Lua em Áries, logo, lua nova, localizados nas casas V e VI e o ascendente em Escorpião. Pelo fato de ser lua nova, temos o início de um novo ciclo também no que diz respeito ao nosso comportamento coletivo (lua), com a potencialidade de assumirmos de forma mais assertiva (áries) aquilo que estamos sendo chamados a responder.


Áries é o signo que representa energia, impulso, iniciativa, liderança, assertividade. E aqui surge a questão: como estamos lidando com este potencial em nosso cotidiano ? em que medida somos responsáveis pelas nossas escolhas ? em que medida delegamos a outrem esta responsabilidade ? Conseguimos disciplinar a nossa impaciência e imediatismo ou somos vítimas de nossa própria ansiedade e intolerância ? respondemos ou reagimos ?


Chama atenção, igualmente, o aspecto de saturno em leão (casa X) e a conjunção marte/netuno em aquário (casa IV). Este é um desafio de romper com modelos arcaicos e obsoletos que se tornaram inadequados e que nos impedem de exercitar a nossa criatividade de maneira mais autêntica e nutridora. Tudo aquilo que fica escondido debaixo das nossas profundezas psíquicas e irracionais e que boicotam a nossa auto-estima, minam a nossa autoconfiança, neutralizam a nossa capacidade de agir e responder de forma adequada aos desafios. Talvez estes modelos sejam padrões familiares que nos remetam a conflitos com autoridade, principalmente aqueles que envolvem figuras masculinas, ou ainda, a situações muito antigas onde experimentamos abandono, falta de apoio e de estímulo, traições, negligência, descaso. Muitos podem sentir esta crise a nível profissional, doméstico-familiar ou ambos, como se fosse impossível conciliar os papéis de ordem pública com os de ordem privada.


Outros, ainda, podem experimentar esta pressão como se o prazer, a criatividade e a alegria não fossem viáveis em situações profissionais, onde são premidos pelos prazos, limites, restrições, comportamentos cristalizados de colegas e, principalmente superiores, que não estão abertos às mudanças e às novas idéias e sentem-se ameaçados quando são questionados em suas decisões, por exemplo.


Além do mais, o dia 20 caiu numa terça-feira (dia associado à marte, regente do signo de áries) e a hora planetária do equinócio (21:08) também é regida por ele. Ou seja, este ano sugere a premência de se tomar decisões; contudo, precisamos ficar atentos com a impulsividade, a impaciência, o imediatismo e a imprudência (típicos de uma energia ariana menos consciente).


Como o ascendente do ano é escorpião, podemos esperar momentos contundentes de transformações e/ou crises coletivas, em especial nos meses de abril / maio, agosto / setembro e outubro / novembro. Escorpião é um signo ligado à necessidade de regeneração, onde, primeiro, nos conectamos com conteúdos emocionais obscuros, irracionais, inconscientes, para poder, logo depois, encontrar os meios adequados de canalizar estes fortes nós psíquicos de modo a apaziguá-los. Podemos nos defrontar, muitas vezes, com situações absolutamente fora do nosso controle, como perdas em diferenciados níveis, e isto nos remete, inexoravelmente, à dimensão humana de nossas limitações diante do Mistério que se entrelaça ao cotidiano da existência.


Como pudemos observar, não tem sido um ano fácil diante de tantas circunstâncias extremas que se apresentam a nível pessoal e coletivo. Entretanto, esta é, justamente, a oportunidade de regenerarmos tudo aquilo que não condiz mais com nosso atual estágio evolutivo. O desafio que se impõe é ter a coragem e a ousadia de mudar.


O tom da primavera
O mapa do equinócio apresenta o ascendente em libra, com o sol em libra na casa XII e a lua em aquário na casa V (em conjunção com netuno). Estes próximos três meses são orientados pela necessidade de procurarmos identificar nossas motivações inconscientes (casa XII) que nos levam a buscar parcerias (libra) com maior ou menor adequação. Há uma tendência maior de busca de harmonização e justiça e o grande desafio será a escolha consciente por algo que ultrapasse o bem estar individual.


Libra é um signo relacionado a casamento, parcerias, associações e contratos. Além do sol e do ascendente, também temos o planeta mercúrio presente neste signo neste momento. Ou seja, é provável que muitos se sintam inspirados a iniciar (ou retomar) atividades artísticas ou de auto-expressão criativa.


A conjunção lua/netuno na casa V reforça a necessidade de expressão da criatividade ou talvez de se reorientar a maneira com a qual estamos lidando com nossos filhos, alunos, relacionamentos afetivos ou a nossa própria criança interior. Não poderemos continuar negando as dificuldades que se apresentam nestes cenários; por outro lado, é justamente na crise que as oportunidades são mais intensas – sintonizando com o aspecto positivo de netuno, poderemos ser capazes de transcender nossas dificuldades de incluir o que é estranho, diferente, diverso do que imaginamos ser o mais adequado e /ou o melhor. Muitas vezes, é difícil para os pais aceitarem a alteridade dos filhos, seres que têm vontade e pensamentos próprios e, às vezes, radicalmente opostos aos deles. Outras vezes, esta dificuldade se expressa na relação professor / aluno ou, ainda, entre dois namorados. È fácil gostar de quem é parecido; é desafiador conviver com a diversidade.


A reflexão que se apresenta aqui poderia ser: em que medida a expressão de meu amor se condiciona àquilo que reflete o que sou ? Consigo enxergar o outro como ele é e, mesmo assim, continuo a gostar dele ? Sou capaz de aceitar as minhas próprias limitações que projeto nas pessoas com as quais me relaciono afetivamente ? Caso não consiga, o que posso fazer para superar esta dificuldade ?


Libra também está associada à figura do conselheiro, do mediador. Muitas vezes, precisamos recorrer a uma terceira pessoa em busca de ajuda, como um terapeuta, por exemplo, para que ele nos acompanhe neste processo de trazer de volta para nós aquilo que projetamos nos outros, buscando a superação destas dificuldades que se apresentam num relacionamento afetivo.
Identificando os subtons


Podemos sentir que, ao longo destes três próximos meses (meados de setembro, outubro, novembro e meados de dezembro, até o próximo solstício de verão) teremos um período de muita tensão (até 15 de outubro), seguido por um período de abrandamento destes conflitos (até 15 de novembro) e por outro de potencialidade total de renovação e redirecionamento. Vejamos mais de perto estas questões.


Todo o cuidado é pouco: o silêncio é ouro


A forte oposição entre marte em gêmeos na casa IX e Plutão em sagitário na casa III no mapa do equinócio reforça que este pode ser um período tenso e conflituoso no campo das idéias, comunicações, ideologias políticas e religiosas. Pode ser um período de fortes acusações, dificuldades no envio de correspondência, problemas com papéis e em todos os tipos de atividades ligadas ao ensino e aos transportes.


Há um certo tom de intolerância e fundamentalismo, o que pode dificultar sobremaneira a busca de consenso, reforçando posições refratárias, causando o afastamento de pessoas. Se prevalecer o individualismo, onde cada qual defende apenas a sua parte, as suas convicções, as suas crenças, a sua visão de mundo (marte na casa IX), perde-se a noção de conjunto, de coletividade, de equilíbrio e bem-estar social (libra). A saída está, justamente, na presença de mercúrio em libra na casa I, onde a capacidade de ouvir (mercúrio) o outro (libra) se apresenta como o primeiro passo para aceitá-lo como ele é (e não forçá-lo a ser como gostaríamos que ele fosse). Como diz o adágio popular, “se a palavra é prata, o silêncio é ouro”. O desafio aqui vai ser falar menos e escutar mais.


Talvez a reflexão que possamos fazer seja esta: em que medida eu realmente ouço (e acolho) o que me dizem, o que escuto ? Em que medida me omito e não me posiciono de forma adequada, expressando o que penso e o que sinto ? Em que medida imponho minhas idéias e minhas visões, inibindo a expressão alheia ? Consigo realmente dialogar ou simplesmente realizo monólogos ?
O desapego como desafio


Em meados de outubro / novembro, também o sol, na sua passagem anual e aparente pelos signos, chega em escorpião, potencializando o ascendente do mapa do ano. Isto vai ativar sobremaneira as casas II e III do mapa do equinócio, onde se localizam este signo (na cúspide) e o planeta plutão (regente do signo), respectivamente.


È possível que o idealismo ou o discernimento sejam o estímulo que promova o desapego e abertura, gerando uma maior harmonia nos relacionamentos. A capacidade de renovação se intensifica, o que cria novas potencialidades e apresenta alternativas criativas ao que parecia estagnado. A própria luminosidade natural dos dias (à medida que transcorre o equinócio, as noites vão ficando mais curtas e os dias mais longos) também se torna um estimulante aos corpos sutis. No entanto, não há garantias – podemos realmente canalizar de forma adequada estes estímulos ou somente provocarmos uma profunda agitação dispersiva a nível interno e externo.


Novos ciclos, novos tempos
Simultaneamente ao mapa do equinócio, vivemos, coletivamente, o início de dois novos ciclos: a entrada de saturno no signo de virgem (em setembro) e a de júpiter no signo de capricórnio (em dezembro).


Júpiter é um planeta social, ligado às leis, à visão de mundo, paradigmas e sistemas de crenças. Saturno, também um planeta coletivo e social, se refere à aplicação destas leis, representando a responsabilidade, o ritmo, a disciplina, o dever. A passagem de Júpiter por um determinado signo é de um ano, a de Saturno, dois anos e meio. Tanto Virgem quanto Capricórnio são signos do elemento terra, ligado à racionalidade, praticidade, cinco sentidos, entre outras coisas. Ou seja, é chegado o momento de respondermos de forma adequada, enquanto indivíduos e coletividade, à demanda que as questões ambientais estão nos apresentando desde a Eco 92, por exemplo. Esta ênfase nos recursos naturais, na saúde e educação, na busca da cura para as doenças, vai além deste mapa da estação – viveremos estes ciclos ao longo de 2008 e 2009.


Mas é importante reforçar que é agora que eles terão início, ou seja, que o universo está nos convidando a tomarmos consciência e, a partir disto, mudarmos nossa atitude em relação aos maus hábitos de consumo (em todos os sentidos) que mantemos cotidianamente e, na maioria das vezes, sem darmos a devida atenção a eles, os quais levam ao desperdício (júpiter) em detrimento da saúde, dos recursos do nosso meio ambiente (virgem). Caso contrário, enfrentaremos grandes desafios de escassez de recursos (capricórnio) , desequilibrando ainda mais a economia mundial (saturno).


A partir de 22 de dezembro, entraremos no último sub-ciclo do ano, com o solstício de verão. Até lá, a ênfase maior estará na busca de equilíbrio entre a energia masculina e feminina, nas associações e parcerias (libra), na necessidade de mergulhar profundamente nas nossas motivações mais inconscientes, reconhecendo nosso potencial de sombra e luz (escorpião) e na orientação de nossa energia de uma maneira focalizada e assertiva (sagitário), onde o indivíduo e a coletividade reconheçam sua mútua alteridade e interdependência.
Em linhas gerais, este é o cenário que nos espera, enquanto coletividade. Mas a maneira como cada um vai significar as experiências vivenciadas neste momento da roda do ano não temos como delinear, pois esta dimensão faz parte do mistério da alma de cada ser.

domingo, 16 de setembro de 2007

O que é a Astrologia Clássica? ( última parte)

Texto de Giuseppe Bezza

Tradução de Daniela Scheifler - Baile no Céu

Em tal modo, Ptolomeo aparece a nós, novíssimos astrólogos. Ele declarou que a previsão se compõe de matemática e de fisica, as quais são a parte demonstrativa da arte e da filosofia, que é a parte conclusiva. No prosseguimento de astrologia de língua grega depois de Ptolomeo continuarão a conviver elementos antigos e novos. No século IV, Paulo de Alexandria segue Ptolomeo de Galeno a ponto de recompor uma segunda vez a sua introdução, mas não pôde esquecer os "sábios Egípcios". Efestione tebano parafraseia o Quadripartitum e acrescenta a cada capítolo metódos, opiniões e aforismos dos archaioi. No século V Rhetorio, que mostra reconhecer a pureza do método ptolomaico de previsão, na sua Instrução para a Interpretação dos Nascimentos (Cat.Cod.Astr.Graec. VIII, 1,243-248) para cada juízo diversas afirmações.

Nos seja concedido ultrapassar as diversas fases e épocas nas quais foi professada a técnica da previsão astronômica. Entre as quais não há homogeneidade, o desenvolvimento histórico é em qualquer espécie contrário ao desenvolvimento homogêneo do pensamento humano. Todavia, na antiga cultura grega a astrologia foi considerada uma «ciência matemática que revela as concatenações do destino» (Salustio, de diis et mundo 9,4) e como tal permanecerá no curso dos longos séculos. Arte e ciência matemática, não uma empírica opinião incerta da falsidade do contrário. "Quando milhões de homens por milhares de anos dividem uma mesma opinião, é de se presumir que esta opinião assim universalmente aceita se apóie em fatos positivos, em uma longa teoria de observação justificada pelo evento": deste modo o conde de Altavilla quer comprovar à jovem Alicia a crença na atração, deste modo se procura às vezes defender e salvar a crença nas estrelas.

Todavia não de justificativas similares necessita uma ciência. Entre os séculos XVI e XVII, ao lado de uma astrologia natural que explica ainda legitimamente, depois da "revolução coperniana", figuras e movimentos aparentes dos astros alcançando até o prognóstico do tempo, uma outra astrologia padece descrédito e em seus professores e em seus ouvintes: «Não sabendo com qual títolo expressivo de injúria poderiam mais violentamente erradicá-la, a chamam opiniática» ainda que «toda e qualquer arte científica sendo ordenada a fim de conhecer qualquer objeto proposto por meio e mediação das causas deles, como disse o Filosofo, entender os erros para conhecer as causas (Scire est rem per causam cognoscere etc.), é certo que tal informação outra coisa não é que um silogismo, e um argumento no qual através das proposições antecedentes, premissas manifestas e conhecidas, se deduz a conclusão e o juízo que era incógnito» (Titi, Tocco di paragone...19-20).

Antes que Newton divulgasse a lei da gravitação universal, o pensamento científico conheceu e aceitou uma outra e diversa lei universal da natureza. Esta lei universal da natureza era astrológica (L. Thorndike, The True Place of Astrology in the History of Science, Isis 1954 p.273). Esta lei se baseia sobre a tese de que a natureza inteira é governada pelo movimento dos céus e pelos corpos celestes e que o homem, enquanto animal naturalmente gerado e habitante do mundo natural, é tomado por natureza dentro dessa lei. Desta forma a astrologia é uma ciência tão verdadeira e natural quanto a filosofia: «É natural uma vez que investiga os efeitos naturais, os quais se produzem no corpo natural daqueles que pertencem, que são naturais das estrelas... É ciência demonstrativa, se pensa das posições e movimentos dos corpos celestes, e das quantidades e suas paixões, como os eclipses, e o nascer do Sol; mas se trata dos efeitos, que se causam das estrelas e das nossas coisas inferiores, as quais sendo mutáveis podem em diversos modos impedir as operações e influências do Céu, ela é ciência conjetural, como com razão a chama S. Tomaso..." (Titi, op.cit. 1-3). Não pretendemos falar dos séculos a nós mais próximos: desde quando se vem legitimando uma mutável dimensão da cultura subalterna, ali foram colocados os desordenados resíduos de uma astrologia em fuga. Mas tudo isso é posterior aos nossos interesses. Até todo o Renascimento a astrologia fez parte da cultura científica e participa das vicissitudes do pensamento humano. Um certo tempo antes do fechamento da Escola de Atenas, o egípcio Rhetorio funda, sobre a autoridade dos archaioi e do método de Ptolomeo, uma atitude sincretista no proceder que parece antecipar o douto enciclopedismo bizantino.

Se Rhetorio representa a última grande figura da astrologia greca, o nascer da astrologia árabe remeterá idealmente a uma similar atenção à tradição dos archaioi e amplificarà o exagero graças ao conhecimento das culturas dos povos subjugados ao islamismo. A moderna historiografia precedente às grandes guerras acredita que o advento do Aristotelismo na cultura islâmica, em torno do séculoVIII-IX , representou um freio à especulação astrológica (c.a. Nallino, Recolha de escritos publicados e inéditos, Roma 1944, T.5, p.20). Na realidade é bem verdade o contrário, assim como os Gregos e os Latinos, também na cultura árabe nunca existiu uma separação entre astronomia e astrologia, mas ambas constituiam uma só ciência, al-nujûm. Albumasar justifica o caráter científico da astrologia sobre a base da filosofia natural de Aristóteles e declara a astrologia ciência completa e perfeita no sentido aristotélico. As maiores autoridades do Introductorium in Astronomiam di Albumasar são Aristóteles, Ptolomeo e Hermes (cfr. R.J. Lemay Abû Ma'shar and Latin Aristotelianism..., Beirut 1962, 41s). Foram essas as figuras emblemáticas da ciência astrológica durante toda a Idade Média.

Até todo o século XVI o astrólogo é sobretudo um filósofo que interpreta os movimentos do céu e as leis da natureza, ele é astrônomo e físico, não raramente médico, e se considera discípulo de Ptolomeo di Galeno, di Aristótoles. O seu pensamento é o pensamento clássico. Aristotélico foi de outra parte considerado Ptolomeo, pelos astrológos árabes e por aqueles medievais e renascimentais, aristotélicos os fundamentos de Albumasar e di al Kindi, aristotélica a formação física-filosófica dos astrólogos da Idade Média e do Renascimento. Mas quanto às considerações racionais, começará a vir atribuído, contrariamente à opinião de Aristóteles, uma espécie de certeza maior daquela oferta pela observação sensível, aquilo que era a rainha das ciências veio destronada e dissolvida. Estamos na metade do século XVI, a física aristotélica entra em uma crise lenta e infrene que preanuncia o illuminismo, embora assistimos a uma das mais significativas interpretações da doutrina astrológica de Ptolomeo fundada sobre uma leitura aristotélica do Quadripartitum na ópera de Placido Titi. Quando Luís XVIII fugia diante da águia imperial, o príncipe de Condé entende de dever informar se a Sua Majestade teria, apesar de tudo, completado o lavatório dos pés no humilde albergue do vilarejo, onde os tempos infelizes lhe haviam lançado longe o dia do aniversário da cerimônia.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Contos astrais: O carneiro

Nivaldo Pereira - nivaldope@uol.com.br

Amor à primeira vista. Outra vez. Como sempre, aliás. Acordara cedo, apesar da ressaca zunindo no fundo da cabeça. Era preciso encontrá-la de novo. Mais que preciso: urgente. Pisou mais fundo no acelerador, incentivado pela velha balada do Rei. Lamentou que ali não houvesse curvas nem estradas de Santos. Somente a suave planura da Rota do Sol, montes se desmanchando em campos verdes. Uma paz incoerente com um coração pegando fogo, louco de amor, louco de amor. Deixou-se levar mais uma vez pelas recordações da noite anterior. A festa, o calor, o trago. Até ela surgir no balcão. E o primeiro olhar. E pronto. Bastou. As palavras lhe saíram da boca num impulso.
“Lindo sinal, esse teu.”
“Não é sinal. É cicatriz. Queda de moto.”
“Alguém te derrubou?”
“Não. Eu mesma caí. Sete pontos na testa. Pelo menos não ficou saliente a marca.”
“Também já me acidentei feio. U.T.I. e tudo. Tive que prometer aos meus velhos que nunca mais andaria de moto. Mas adoro. Sinto falta do vento na cara.”
“Posso te dar uma carona qualquer dia. Mas só se eu pilotar.”
Ele escutara direito? Uau! Então ela também estava a fim! Agora, enquanto trocava o antigo disco do Rei pelo solo italiano de Renato Russo, leu na placa da estrada que São Francisco de Paula estava a quarenta quilômetros. Era hora de ligar para ela. Avisar que estava indo. Ficaria surpresa? Afinal, ele só dissera que telefonaria. Não. Depois dos beijos doidos, na fumaça da pista iluminada, ele já sabia ter encontrado a mulher da sua vida. Por isso prometera vê-la de qualquer jeito neste domingo mesmo. Ela riu da fissura dele. Deus, que sorriso lindo! Disse que morava numa chácara transformada em pousada, com os pais, a quem ajudava. Um lugar bonito, os turistas adoravam. Ora, ora, se ela não quisesse que fosse procurada, não teria falado nada. Renato Russo cantava Strani Amori. Ele conhecia vagamente o trecho onde devia ficar a pousada. Faltou saber o nome do lugar. Mas guardara o número do celular dela. Equilíbrio Distante, o disco que tocava. Agora ela era o equilíbrio dele. Vital. Visceral. Precisava dela. Para sempre.
Outras placas indicaram a proximidade da cidade. Ele já tinha repetido Strani Amori cinco vezes, sem entender o idioma, mas entendendo de um desejo cego que o guiara até ali. Pegou o celular no bolso da calça. E deu um soco no volante. Maldição! Droga! Cacete! O celular tinha se descarregado. Tentou ligá-lo. Nada. O número dela estava gravado ali. Por que não checara isso antes de sair? Onde haveria um carregador compatível? Sentiu uma fúria colossal, socos no teto do carro. Calma, rapaz, calma. Pense. Tem que haver um jeito. E se perguntasse por ela em alguma dessas pousadas perto da estrada, perto de onde pensava ficar a dela? Esse pessoal todo do ramo deve se conhecer. Pegou o primeiro acesso de chão batido que viu, à direita, de olho num casarão no alto de um coxilha. Mais adiante, uma cancela barrava o caminho. Ele desceu, abriu-a, seguiu com o carro. E percebeu ter entrado num pasto, porque a estradinha findava num capim macio. Droga! Desceu para respirar um pouco, olhar ao redor.
Nisso viu se aproximar um carneiro exótico, desses europeus, chifres retorcidos, testa pronunciada, altivo. O animal embalou em sua direção. Opa! Melhor entrar no carro. Esses bichos podem dar umas boas cabeçadas de defesa. Até riu um pouco, esperando o carneiro desistir da empreitada. Daí sentiu o carro sacolejar. Som de vidro quebrado. Cabeça dura de carneiro no farol esquerdo. Não é possível! Ninguém merece! Esse farol custa uma nota! Com esse azar todo, a polícia bem pode pará-lo na estrada, multa, outras incomodações... O corpo tremendo de ira e frustração, a cabeça voltando a doer da ressaca, ele teve ganas de perseguir de carro o maldito carneiro pelo pasto. Mas preferiu ir à cidade. Umas voltas no Lago São Bernardo, um almoço bacana, uma taça de vinho, isso o acalmaria antes de retornar. Logo estacionou o possante vermelho ao lado da antiga gruta dos índios, à beira do lago. Sentou na grama e ficou atirando pedrinhas na água escura. Pensou nela, para afastar a raiva. Quando ouviu seu nome, em tom de dúvida. “Ariano?” Virou-se. Ela. Surpresa, susto na cara. E um brilho no olhar, entre as sobrancelhas juntas, que o deixaram louco de paixão. Correu para ela com tanto ímpeto que caíram ambos na grama. Ele, como sempre, exagerado feito Cazuza, querendo sorver de um único gole todo amor que houver nessa vida.


sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Alfabeto astrológico


“O alfabeto astrológico é constituído por vários grupos e fatores: polaridades, elementos, planetas, signos, casas, aspectos, entre os mais fundamentais. Depois existe a sintaxe, que diz respeito à interpretação e interação dos elementos e a parte dinâmica, relativo ao processo de prognóstico.
Além de estudar a natureza, devemos observar como se distribuem as energias no horóscopo, o que é feito dando “pontos”, segundo incidem nos ritmos ou elementos.

As energias da Personalidade
A personalidade é a esfera de nosso eu pessoal, nossas energias mais básicas, o ambiente mais próximo e fundamental. É a nossa infra-estrutura em geral: sem ela nada podemos fazer, e o mais sábio que fazemos é mantê-la em ordem. É dada pelos chamados Quatro Elementos, e mais diretamente com o Sistema de Casas. Relaciona-se, esotericamente, à 1ª Iniciação ou o despertar espiritual, e também com a forma quadrangular.

A Lua
A Lua simboliza a esfera das formas, os distintos níveis de formas representados pelos Quatro Elementos. Rege simbolicamente o Sistema de Casas porque polariza com o Sol. Como sugere seu símbolo (o da Lua Minguante), representa a divisão por quatro (quadrantes), existindo por isto quatro deuses lunares para simbolizar suas quatro fases.
A Lua representa a imaginação, assimilação das coisas, sensibilidade e auto-imagem, o psiquismo e a receptividade; a mãe; o povo.

As energias do Espírito
O espírito está simbolizado pelo Sol, que se manifesta através dos Ritmos Cardinal, Fixo e Mutável, assim como pelos Signos. Este nível está relacionado ao triângulo e, esotericamente, à 2ª Iniciação, a do Discipulado, ou a busca pelo contato com o Eu Interior.

O Sol
É a esfera central do Sistema Solar. A origem e o final. Isto está indicado no seu símbolo, um Centro (ponto) com sua Circunferência, Alfa e Ômega. É o espaço total, seja em sua origem central como exterior. É o todo e o resumo do Sistema que dele depende.
Significa nosso Eu Interior sublimado, o coroamento de nossa evolução, nossas estruturas de consciência. É a nossa vitalidade, e a nossa necessidade de experiências, poder e modo de expressão, criatividade, dignidade e autoridade.

As energias da Alma
A Alma ou Psiquê é aquela esfera intermediária entre a Personalidade e o Espírito. Representa uma “energia” elaborada pelas virtudes, e na realidade expressa aquilo que de mais propriamente humano existe. Nela se encontra o molde do homem, ou o Arquétipo divino-humano. Relaciona-se à 3ª Iniciação (1ª Iniciação Solar) e à forma pentagonal.

Mercúrio
É a esfera que simboliza o nível da Alma no Microcosmo. Mercúrio ou Hermes é o elo entre os mundos, o Mensageiro dos Deuses. Processa ou alquimiza as energias planetárias e relaciona hierarquicamente os opostos. Tudo isto está representado no seu símbolo, onde aparece todo o conjunto planetário reunido: Sol, Lua e cruz alusiva ao grupo planetário. Mercúrio é o Grande Alquimista, aquele que transforma os metais, ou seja: os elementos – é a mente (as palavras “mente” e “metal” são aparentadas e elemento contém o termo “mente”). É o intelecto, a comunicação, a razão, a dialética. É o fruto da planta. Sua polaridade é neutra.”



(Compilado da Revista Órion, nº 10 – Out/2003)
Rejane Woltz Barbisan
Astróloga

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O que é a Astrologia Clássica? ( parte II)

Texto de Giuseppe Bezza

Tradução de Daniela Scheifler - Baile no Céu

Os homens antigos do inicio – afirma Aristóteles – compreenderam essas coisas na forma do mito, e nesta forma as transmitiram aos que vieram depois, dizendo que esses corpos celestes são divindades, e que a divindade circunda toda a natureza. O resto foi agregado depois, sempre na forma de mito, para persuadir os demais, e foi empregado a fim de impor obediência à lei e por razões de ultilidade. Dizem de fato que aqueles seres divinos são similares aos homens e aos animais, e outras coisas acrescentam, que derivam deles ou são a eles muito similares. Se, todavia, separásssemos essa mistura e compreendêssemos somente o conteúdo originário daquelas crenças, ou seja, considerar divindade as substâncias primeiras, devemos então convir que eles falavam em modo divino.(Metaphysica 1074b). Quem são esses homens antiquíssimos palaitatoi anthrôpoi?. São como lemos em Homero, os habitantes da cidade de Troia (Il. 11,166) ou os contemporâneos de Servio Tullio (Plutarco De fortuna Rom. 323e)? A nós parece aqueles palaitoi anthrôpoi (antigos homens) de que falou Platão que inventaram os nomes das coisas (Crat. 441b), palaioi (antigos), exatamente porque pertencem ao tempo do mito e não podem ser colocados em nenhuma dimensão temporal.

Se quiséssemos ao contrário nos perguntar quando aparece pela primeira vez no Ocidente um sistema completo de previsão fundada sobre fenômenos astronômicos, podemos dizer que Berosso, Epigene e Critodemo são os primeiros astrológos a nós conhecidos. Se considera hoje que Critodemo haja precedido o legendário Petosiride, cuja vida foi transportada pelos filólogos do sec VII ao I secolo a.C., enquanto ao contrário se estima que Critodemo tenha vivido no sec. III a.C.; em tal modo eles mesmos Antioco d'Atene, Prassidico, Timeo, Sarapione Alessandrino, Teucro seriam contemporâneos do sacerdote egípcio.

Mas aquilo que aqui nos importa sublinhar é que os astrólogos da idade helenística são normalmente claros, entre os seus predecessores, os archaioi e os palaioi. Os primeiros foram aqueles que iniciaram a manipular a astrologia e os segundos aqueles que a inventaram e a nominaram pela primeira vez. Dos primeiros se conhece o nome e a vida terrena, mas os segundos são envoltos no mito, são uma dimensão atemporal, como o Hermes das mil direções, « a quem nossos antepassados dedicaram as invenções da sua cultura » (Giamblico De mysteriis 1,1; cfr. 8,4); são aqueles que primeiro estabeleceram os nomes da arte, como por exemplo o nome de agathodaimôn (bom gênio) ao décimo primeiro lugar (V. Valens p. 135.2 Kroll), ou seja, os nomes e os atributos que remontam a Hermes Trimegisto (Rhetorio, Cat.Cod.Astr.Graec. VIII,IV 126-174). Temos um exemplo em Efestione de Tebas: Panchario não está entre os archaioi, nem entre os palaioi, uma vez que é seu contemporâneo, mas Porfirio (I, 157.1 Pingree), Antigono di Nicea (I, 162-163), Doroteo (I, 263.10-11), os sábios egípcios que o precederam (I, 258.19) estão entre os archaioi. Palaioi ao contrário, foram os primeiros a observar as figuras das estrelas (Ptolomeo Quadr. 1,2 Boll-Boer 8.9), a natureza dos planetas (ibid. 1,4 B.B. 17.8; 1,5 B.B. 19.24) e das estrelas inerrantes (ibid. 1,10 B.B. 30.7), palaios é o manuscrito que Ptolomeo mantém entre as suas mãos (ibid. 1,21 B.B. 49.14).

Para os astrólogos helenísticos posteriores ao século II os archaioi são então os seus predecessores históricos. Estes, por sua vez, fundam a sua doutrina lembrando aos palaioi (Haephestio I,120.25), entre os quais uma figura aparece primeiro, aquela de Petosiride, palaios por antonomásia (cfr. scholia in Cl. Pto. quadr. Wolf p.111). Estamos portanto de frente a três diversas épocas da Astrologia: os antigos, os veteranos, os novos. Entre os novos uma figura se destaca, não só pela perfeição da sua doutrina, ou pelo seu preciso conhecimento dos movimentos, mas sobretudo por uma nova concepção e um novo método de arte da previsão astronômica: Claudio Ptolomeo, no segundo capitolo do terceiro livro do Quadripartitum renuncia ao modo antigo (archaios) da previsão, que consiste na «qualidade conjunta de todos ou da maior parte dos astros e se alguém quisesse completá-lo com cuidado se revelaria multiforme e quase infinito» (B.B. 109.5-7).

Esta forma de predição é aquela dos antigos Egípcios os quais de fato «seguiam um método cheio de configurações particolares, sujeitas a parecerem infinitas, difíceis de entender e compreender» (In Cl. Pto. enarrator ignoti nomiis Wolf p.89).
Estes diversos modos do proceder (agôgai) dos antigos, difíceis de se desvincular, enigmáticos, como declarava V. Valente (p. 242.20 Kroll), constituem para os novos astrólogos a tradição.

Diante disso, muitos procuram explicá-la, como Vettio Valente, deixando, todavia, a arte no rastro de uma secreta sabedoria. Não abandonar o proceder da tradição significa conservar a sua riqueza; significa ainda falar a sua lingua, que não é aquela dos filósofos, dos naturalistas, dos homens de ciência. Diversa foi a atitude de Ptolomeo; ele não exprime uma recusa clara e global à tradição, ao contrário: os termos técnicos que ele usa são os mesmos dos antigos e o objetivo de Porfirio na sua introdução é de explicá-los aos contemporâneos (isag. Wolf 181). Mas ele é filósofo e cientista e prefere seguir uma via natural, interpretando «com um método pertinente à filosofia» (quadr. 1,1; Boll-Boer 3.6-7) as configurações e os movimentos dos astros que o conhecimento da astronomia nos oferece, ainda que isso devesse comportar um parcial abandono da tradição. ( continua)

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Uma poesia para Saturno em Virgem


"Trazer à terra, depurar

para que aprendas a distinguir

tantas coisas que é preciso limpar

frutos do que se plantou

cotidiano servir

Ceifai cereais

Ceres das colheitas

destroem-se as obsoletas formas

não mais saciam sedes e vertentes

No infinitamente

se refazem as sementes"


Isabel Mueller - Astróloga, Poetisa - www.isabelmueller.com.br



domingo, 2 de setembro de 2007

O que é a Astrologia Clássica? ( parte I)


Autor: Giuseppe Bezza

Tradução: Daniela Scheifler Baile no Céu

O que se deve entender por Astrologia clássica? convém uma tal denominação em qualquer que seja o período da astrologia? É bastante dificil imaginar uma resposta afirmativa, ao contrário, vêm à mente outras perguntas: Quando e onde podemos situar o nascimento de uma doutrina astrológica a nós documentada? Existiria uma astrologia pré-clássica, um período áureo ou uma decadência? E se, como às vezes se afirma em alguns períodos da história das idéias, a astrologia se propõem a ser ciência, pode a nossa compreensão aceitar o nascimento, o declínio e o desaparecimento de uma ciência? Além disso: como poderemos chamar de ciência uma semiótica das aparências que nos parece o parto de um furioso espírito, mais do que da mente e da razão? Por parte dos antigos, já há tempos se fez justiça reclamando a sentença de Terencio: maus pensamentos, maus espiritos. Mas se quiséssemos ainda prosseguir e voltássemos a nossa atenção aos escritos dos antigos astrólogos, permaneceríamos desconcertados em frente a super abundância e a extrema variedade de procedimentos. Esses procedimentos, que podemos ainda hoje ler em uma vastíssima literatura manuscrita grega, latina e árabe, provêm, presumimos, de um corpus doutrinário egípcio e mesopotâmico, mas os antigos são de uma opinião diversa.

Onde nasceu essa pretensa ciência sideral que teve a intenção de unir a contemplação da suprema beleza dos céus às rigorosas leis físicas sobre aparências visuais, quase negando a dramática dicotomia de Shelley entre poesia e ciencia? É verdade que, se da decadência da astrologia podemos racionalmente discutir, uma vez que nos é próxima e, de qualquer forma, evidente que do seu primeiro manifestar não nos é dado saber. Todavia, permanecemos confusos em frente às cândidas e ingênuas declarações dos antigos sobre os inventores da Astrologia. Quando Santo Agostinho chama Atlas de maior astrólogo (de Civitate Dei 18,39; cfr. Plinio nat. hist. 2,31; 7,203; Vitruvio 6,10,6; Diodoro S. 3,60,2; 4,27,1) retoma a doutrina evemerista1 que transforma em sábios os heróis do mito, mas não só Atlante: Urano, Belo, Toth, Prometeu, Atreo e o Centauro Quiron também divulgaram a Astronomia aos homens. (cfr. Jo. Chr. Heilbronner, Historia Universal de Mateus em um mundo em harmonia com os séculos posteriores Chr.n. XVI, Lipsiae 1742, 54s.). Santo Agostinho ainda nos diz que Atlante era contemporâneo de Moisés, o qual era por sua vez, contemporâneo de Filone, matemático, astronônomo, geómetro, músico e filósofo excelente, e aprendeu com os Assírios a ciência dos Céus (Vida de Moisés 1,23). Mas ainda antes de Moisés foi Abraão quem ensinou matemática e astrononomia aos egípcios, que ainda não a conheciam. (Berosso, in Giuseppe Flavio, Idade Antiga 1,8,2; cfr. Eusebio, praep.ev. 9,16). Foram esses homens que receberam a ciência dos céus através de revelações.

Ao lado de uma tradição que deseja que Astronomia e Astrologia sejam ensinadas por anjos rebeldes (cfr. Libro di Enoch 8,4), os gregos consideravam geralmente que essas fossem reveladas dos deuses aos “reis caros a divindade” (Luciano, De Astrol. 1; cfr. Achille Tazio isag. 1), portanto por presente divino munere caelestum, como disse Manilio (1,26). Revelações das leis naturais que produzem as estações e as mudanças das vegetações, revelação da emanação e influxo sempiterno que do céu se estende naturalmente à toda lei física e moral terrena, seja ela coletiva ou individual.

Que o homem tenha percebido em uma época a nós remota uma símile e impar conexão entre céu e terra e que a essa se tenha em tudo conformado, não podemos duvidar: O imperador chinês, na sua qualidade de filho do céu, diante do céu era responsável pelos erros dos seus ministros. Não diversamente todo soberano, em todas as épocas, em todo o lugar, sempre sentiu a necessidade de apoiar o proprio direito divino à observação meticulosa do rito sagrado. Mas quais os conhecimentos astronômicos revelados? Sem dúvida, primitivos, mas também mais complexos do que se possa imaginar. Se hoje cada um sabe que a terra gira em torno do Sol, essa mesma noção prejudica a total compreensão dos fenômenos aparentes. Se Astronomia e a Astrologia têm um longo formato em tudo indissolúvel, dessa maneira que uma indica a outra e vice-e-versa, do mesmo modo, toda a lei da astronomia dos antigos, dos fora de centro até a oitava esfera, se põe como lei física e natural, marca episteme de uma lei celeste, fundamento do juízo e da previsão enquanto objetivo último do astronômo, o philalêthês, o amante da verdade. (continua)

1) Evemerismo substantivo masculino
Rubrica: filosofia.
interpretação filosófica, defendida por Evêmero de Messina (sIV e III a.C.), segundo a qual os deuses são personagens humanos, extraídos de relatos tradicionais e acontecimentos históricos, divinizados pelos próprios homens. Houaiss - Dicionário eletrônico da Lingua Portuguesa