segunda-feira, 17 de setembro de 2007

MOMENTO ASTROLÓGICO - EQUINÓCIO DE PRIMAVERA

Sandro Botticelli - La Primavera

Texto de Lúcia D. Torres Astróloga, educadora e terapeuta, coordenadora do curso de Formação em Astrologia da UNIPAZ-SUL, diretora desta instituição e vice-presidente da CNA (Central Nacional de Astrologia).


No próximo dia 23 de setembro, às 06:52, estaremos iniciando mais um ciclo cósmico-astrológico da Roda do Ano com o equinócio de primavera. Na realidade, a cada estação, vivenciamos um sub-ciclo do ciclo maior que é o ano. A tradição astrológica orienta que se levante o mapa do momento exato do início do equinócio de outono como sendo o mapa do Ano Novo Cósmico (para o hemisfério sul) e que os mapas dos solstícios de inverno, de verão e o do equinócio de primavera sejam considerados como uma atualização do processo cíclico em desenvolvimento. A finalidade essencial desta observação é justamente refletir em que medida estamos (ou não) sintonizados e atentos aos ciclos celestes e terrestres que se manifestam no nosso cotidiano, codificados nas experiências que a vida nos oferece.


Assim sendo, sob o olhar astrológico, o ano realmente inicia quando o Sol, na sua trajetória anual, encontra-se no grau zero de Áries, em 20/21 de março ( e não na passagem do 31 de dezembro para 1º. de janeiro, como comemoramos desde a mudança de calendário instituída por Júlio César). Ao levantarmos o mapa deste momento, temos uma projeção das oportunidades e desafios coletivos que o ano vindouro nos apresenta. Podemos observar estas tendências sob vários enfoques, como, por exemplo, no âmbito da astrologia mundial (associada a questões econômicas e políticas). Vários astrólogos, como Barbara Abramo e Antonio Carlos Harres, se dedicam a isto.


Prefiro sugerir, aqui, uma reflexão mais ontológica, ainda que breve, já que o mapa do ano tem o ascendente em escorpião – é imperativo que nos debrucemos nos desafios cósmicos de transformar os nossos valores coletivos e a maneira como administramos os recursos gerados pelas parcerias. O planeta regente deste signo, Plutão, encontra-se no signo de sagitário na casa II – é imprescindível que façamos uma revisão de onde estamos fixados no nosso olhar, quais são os paradigmas que orientam as nossas escolhas, nossas crenças a respeito da vida e das pessoas, o que valorizamos (ou não).


Cada vez mais, precisamos da consciência de que somos todos membros de uma grande família planetária, onde não existem nem atos, nem sentimentos tampouco idéias isoladas ou inócuas e, sim, uma profunda e ampla interdependência e sinergia entre todos os seres vivos, incluindo os humanos.


Para quem não conhece a linguagem astrológica, sintetizo que as casas do mapa representam os cenários, as áreas das experiências que se apresentam; os planetas representam as diferentes dimensões destas experiências e os signos simbolizam a sua forma de manifestação.


Para um estudo mais pormenorizado e individual, sugere-se que a pessoa compare o mapa da estação (que apresenta as tendências do coletivo no momento) com o seu próprio mapa astrológico de nascimento. Assim, é possível particulizar de forma mais adequada o que se apresenta de maneira generalizada.


O tom do ano
No dia 20 de março, o mapa do Ano Cósmico nos apresentava o Sol e a Lua em Áries, logo, lua nova, localizados nas casas V e VI e o ascendente em Escorpião. Pelo fato de ser lua nova, temos o início de um novo ciclo também no que diz respeito ao nosso comportamento coletivo (lua), com a potencialidade de assumirmos de forma mais assertiva (áries) aquilo que estamos sendo chamados a responder.


Áries é o signo que representa energia, impulso, iniciativa, liderança, assertividade. E aqui surge a questão: como estamos lidando com este potencial em nosso cotidiano ? em que medida somos responsáveis pelas nossas escolhas ? em que medida delegamos a outrem esta responsabilidade ? Conseguimos disciplinar a nossa impaciência e imediatismo ou somos vítimas de nossa própria ansiedade e intolerância ? respondemos ou reagimos ?


Chama atenção, igualmente, o aspecto de saturno em leão (casa X) e a conjunção marte/netuno em aquário (casa IV). Este é um desafio de romper com modelos arcaicos e obsoletos que se tornaram inadequados e que nos impedem de exercitar a nossa criatividade de maneira mais autêntica e nutridora. Tudo aquilo que fica escondido debaixo das nossas profundezas psíquicas e irracionais e que boicotam a nossa auto-estima, minam a nossa autoconfiança, neutralizam a nossa capacidade de agir e responder de forma adequada aos desafios. Talvez estes modelos sejam padrões familiares que nos remetam a conflitos com autoridade, principalmente aqueles que envolvem figuras masculinas, ou ainda, a situações muito antigas onde experimentamos abandono, falta de apoio e de estímulo, traições, negligência, descaso. Muitos podem sentir esta crise a nível profissional, doméstico-familiar ou ambos, como se fosse impossível conciliar os papéis de ordem pública com os de ordem privada.


Outros, ainda, podem experimentar esta pressão como se o prazer, a criatividade e a alegria não fossem viáveis em situações profissionais, onde são premidos pelos prazos, limites, restrições, comportamentos cristalizados de colegas e, principalmente superiores, que não estão abertos às mudanças e às novas idéias e sentem-se ameaçados quando são questionados em suas decisões, por exemplo.


Além do mais, o dia 20 caiu numa terça-feira (dia associado à marte, regente do signo de áries) e a hora planetária do equinócio (21:08) também é regida por ele. Ou seja, este ano sugere a premência de se tomar decisões; contudo, precisamos ficar atentos com a impulsividade, a impaciência, o imediatismo e a imprudência (típicos de uma energia ariana menos consciente).


Como o ascendente do ano é escorpião, podemos esperar momentos contundentes de transformações e/ou crises coletivas, em especial nos meses de abril / maio, agosto / setembro e outubro / novembro. Escorpião é um signo ligado à necessidade de regeneração, onde, primeiro, nos conectamos com conteúdos emocionais obscuros, irracionais, inconscientes, para poder, logo depois, encontrar os meios adequados de canalizar estes fortes nós psíquicos de modo a apaziguá-los. Podemos nos defrontar, muitas vezes, com situações absolutamente fora do nosso controle, como perdas em diferenciados níveis, e isto nos remete, inexoravelmente, à dimensão humana de nossas limitações diante do Mistério que se entrelaça ao cotidiano da existência.


Como pudemos observar, não tem sido um ano fácil diante de tantas circunstâncias extremas que se apresentam a nível pessoal e coletivo. Entretanto, esta é, justamente, a oportunidade de regenerarmos tudo aquilo que não condiz mais com nosso atual estágio evolutivo. O desafio que se impõe é ter a coragem e a ousadia de mudar.


O tom da primavera
O mapa do equinócio apresenta o ascendente em libra, com o sol em libra na casa XII e a lua em aquário na casa V (em conjunção com netuno). Estes próximos três meses são orientados pela necessidade de procurarmos identificar nossas motivações inconscientes (casa XII) que nos levam a buscar parcerias (libra) com maior ou menor adequação. Há uma tendência maior de busca de harmonização e justiça e o grande desafio será a escolha consciente por algo que ultrapasse o bem estar individual.


Libra é um signo relacionado a casamento, parcerias, associações e contratos. Além do sol e do ascendente, também temos o planeta mercúrio presente neste signo neste momento. Ou seja, é provável que muitos se sintam inspirados a iniciar (ou retomar) atividades artísticas ou de auto-expressão criativa.


A conjunção lua/netuno na casa V reforça a necessidade de expressão da criatividade ou talvez de se reorientar a maneira com a qual estamos lidando com nossos filhos, alunos, relacionamentos afetivos ou a nossa própria criança interior. Não poderemos continuar negando as dificuldades que se apresentam nestes cenários; por outro lado, é justamente na crise que as oportunidades são mais intensas – sintonizando com o aspecto positivo de netuno, poderemos ser capazes de transcender nossas dificuldades de incluir o que é estranho, diferente, diverso do que imaginamos ser o mais adequado e /ou o melhor. Muitas vezes, é difícil para os pais aceitarem a alteridade dos filhos, seres que têm vontade e pensamentos próprios e, às vezes, radicalmente opostos aos deles. Outras vezes, esta dificuldade se expressa na relação professor / aluno ou, ainda, entre dois namorados. È fácil gostar de quem é parecido; é desafiador conviver com a diversidade.


A reflexão que se apresenta aqui poderia ser: em que medida a expressão de meu amor se condiciona àquilo que reflete o que sou ? Consigo enxergar o outro como ele é e, mesmo assim, continuo a gostar dele ? Sou capaz de aceitar as minhas próprias limitações que projeto nas pessoas com as quais me relaciono afetivamente ? Caso não consiga, o que posso fazer para superar esta dificuldade ?


Libra também está associada à figura do conselheiro, do mediador. Muitas vezes, precisamos recorrer a uma terceira pessoa em busca de ajuda, como um terapeuta, por exemplo, para que ele nos acompanhe neste processo de trazer de volta para nós aquilo que projetamos nos outros, buscando a superação destas dificuldades que se apresentam num relacionamento afetivo.
Identificando os subtons


Podemos sentir que, ao longo destes três próximos meses (meados de setembro, outubro, novembro e meados de dezembro, até o próximo solstício de verão) teremos um período de muita tensão (até 15 de outubro), seguido por um período de abrandamento destes conflitos (até 15 de novembro) e por outro de potencialidade total de renovação e redirecionamento. Vejamos mais de perto estas questões.


Todo o cuidado é pouco: o silêncio é ouro


A forte oposição entre marte em gêmeos na casa IX e Plutão em sagitário na casa III no mapa do equinócio reforça que este pode ser um período tenso e conflituoso no campo das idéias, comunicações, ideologias políticas e religiosas. Pode ser um período de fortes acusações, dificuldades no envio de correspondência, problemas com papéis e em todos os tipos de atividades ligadas ao ensino e aos transportes.


Há um certo tom de intolerância e fundamentalismo, o que pode dificultar sobremaneira a busca de consenso, reforçando posições refratárias, causando o afastamento de pessoas. Se prevalecer o individualismo, onde cada qual defende apenas a sua parte, as suas convicções, as suas crenças, a sua visão de mundo (marte na casa IX), perde-se a noção de conjunto, de coletividade, de equilíbrio e bem-estar social (libra). A saída está, justamente, na presença de mercúrio em libra na casa I, onde a capacidade de ouvir (mercúrio) o outro (libra) se apresenta como o primeiro passo para aceitá-lo como ele é (e não forçá-lo a ser como gostaríamos que ele fosse). Como diz o adágio popular, “se a palavra é prata, o silêncio é ouro”. O desafio aqui vai ser falar menos e escutar mais.


Talvez a reflexão que possamos fazer seja esta: em que medida eu realmente ouço (e acolho) o que me dizem, o que escuto ? Em que medida me omito e não me posiciono de forma adequada, expressando o que penso e o que sinto ? Em que medida imponho minhas idéias e minhas visões, inibindo a expressão alheia ? Consigo realmente dialogar ou simplesmente realizo monólogos ?
O desapego como desafio


Em meados de outubro / novembro, também o sol, na sua passagem anual e aparente pelos signos, chega em escorpião, potencializando o ascendente do mapa do ano. Isto vai ativar sobremaneira as casas II e III do mapa do equinócio, onde se localizam este signo (na cúspide) e o planeta plutão (regente do signo), respectivamente.


È possível que o idealismo ou o discernimento sejam o estímulo que promova o desapego e abertura, gerando uma maior harmonia nos relacionamentos. A capacidade de renovação se intensifica, o que cria novas potencialidades e apresenta alternativas criativas ao que parecia estagnado. A própria luminosidade natural dos dias (à medida que transcorre o equinócio, as noites vão ficando mais curtas e os dias mais longos) também se torna um estimulante aos corpos sutis. No entanto, não há garantias – podemos realmente canalizar de forma adequada estes estímulos ou somente provocarmos uma profunda agitação dispersiva a nível interno e externo.


Novos ciclos, novos tempos
Simultaneamente ao mapa do equinócio, vivemos, coletivamente, o início de dois novos ciclos: a entrada de saturno no signo de virgem (em setembro) e a de júpiter no signo de capricórnio (em dezembro).


Júpiter é um planeta social, ligado às leis, à visão de mundo, paradigmas e sistemas de crenças. Saturno, também um planeta coletivo e social, se refere à aplicação destas leis, representando a responsabilidade, o ritmo, a disciplina, o dever. A passagem de Júpiter por um determinado signo é de um ano, a de Saturno, dois anos e meio. Tanto Virgem quanto Capricórnio são signos do elemento terra, ligado à racionalidade, praticidade, cinco sentidos, entre outras coisas. Ou seja, é chegado o momento de respondermos de forma adequada, enquanto indivíduos e coletividade, à demanda que as questões ambientais estão nos apresentando desde a Eco 92, por exemplo. Esta ênfase nos recursos naturais, na saúde e educação, na busca da cura para as doenças, vai além deste mapa da estação – viveremos estes ciclos ao longo de 2008 e 2009.


Mas é importante reforçar que é agora que eles terão início, ou seja, que o universo está nos convidando a tomarmos consciência e, a partir disto, mudarmos nossa atitude em relação aos maus hábitos de consumo (em todos os sentidos) que mantemos cotidianamente e, na maioria das vezes, sem darmos a devida atenção a eles, os quais levam ao desperdício (júpiter) em detrimento da saúde, dos recursos do nosso meio ambiente (virgem). Caso contrário, enfrentaremos grandes desafios de escassez de recursos (capricórnio) , desequilibrando ainda mais a economia mundial (saturno).


A partir de 22 de dezembro, entraremos no último sub-ciclo do ano, com o solstício de verão. Até lá, a ênfase maior estará na busca de equilíbrio entre a energia masculina e feminina, nas associações e parcerias (libra), na necessidade de mergulhar profundamente nas nossas motivações mais inconscientes, reconhecendo nosso potencial de sombra e luz (escorpião) e na orientação de nossa energia de uma maneira focalizada e assertiva (sagitário), onde o indivíduo e a coletividade reconheçam sua mútua alteridade e interdependência.
Em linhas gerais, este é o cenário que nos espera, enquanto coletividade. Mas a maneira como cada um vai significar as experiências vivenciadas neste momento da roda do ano não temos como delinear, pois esta dimensão faz parte do mistério da alma de cada ser.

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