domingo, 16 de setembro de 2007

O que é a Astrologia Clássica? ( última parte)

Texto de Giuseppe Bezza

Tradução de Daniela Scheifler - Baile no Céu

Em tal modo, Ptolomeo aparece a nós, novíssimos astrólogos. Ele declarou que a previsão se compõe de matemática e de fisica, as quais são a parte demonstrativa da arte e da filosofia, que é a parte conclusiva. No prosseguimento de astrologia de língua grega depois de Ptolomeo continuarão a conviver elementos antigos e novos. No século IV, Paulo de Alexandria segue Ptolomeo de Galeno a ponto de recompor uma segunda vez a sua introdução, mas não pôde esquecer os "sábios Egípcios". Efestione tebano parafraseia o Quadripartitum e acrescenta a cada capítolo metódos, opiniões e aforismos dos archaioi. No século V Rhetorio, que mostra reconhecer a pureza do método ptolomaico de previsão, na sua Instrução para a Interpretação dos Nascimentos (Cat.Cod.Astr.Graec. VIII, 1,243-248) para cada juízo diversas afirmações.

Nos seja concedido ultrapassar as diversas fases e épocas nas quais foi professada a técnica da previsão astronômica. Entre as quais não há homogeneidade, o desenvolvimento histórico é em qualquer espécie contrário ao desenvolvimento homogêneo do pensamento humano. Todavia, na antiga cultura grega a astrologia foi considerada uma «ciência matemática que revela as concatenações do destino» (Salustio, de diis et mundo 9,4) e como tal permanecerá no curso dos longos séculos. Arte e ciência matemática, não uma empírica opinião incerta da falsidade do contrário. "Quando milhões de homens por milhares de anos dividem uma mesma opinião, é de se presumir que esta opinião assim universalmente aceita se apóie em fatos positivos, em uma longa teoria de observação justificada pelo evento": deste modo o conde de Altavilla quer comprovar à jovem Alicia a crença na atração, deste modo se procura às vezes defender e salvar a crença nas estrelas.

Todavia não de justificativas similares necessita uma ciência. Entre os séculos XVI e XVII, ao lado de uma astrologia natural que explica ainda legitimamente, depois da "revolução coperniana", figuras e movimentos aparentes dos astros alcançando até o prognóstico do tempo, uma outra astrologia padece descrédito e em seus professores e em seus ouvintes: «Não sabendo com qual títolo expressivo de injúria poderiam mais violentamente erradicá-la, a chamam opiniática» ainda que «toda e qualquer arte científica sendo ordenada a fim de conhecer qualquer objeto proposto por meio e mediação das causas deles, como disse o Filosofo, entender os erros para conhecer as causas (Scire est rem per causam cognoscere etc.), é certo que tal informação outra coisa não é que um silogismo, e um argumento no qual através das proposições antecedentes, premissas manifestas e conhecidas, se deduz a conclusão e o juízo que era incógnito» (Titi, Tocco di paragone...19-20).

Antes que Newton divulgasse a lei da gravitação universal, o pensamento científico conheceu e aceitou uma outra e diversa lei universal da natureza. Esta lei universal da natureza era astrológica (L. Thorndike, The True Place of Astrology in the History of Science, Isis 1954 p.273). Esta lei se baseia sobre a tese de que a natureza inteira é governada pelo movimento dos céus e pelos corpos celestes e que o homem, enquanto animal naturalmente gerado e habitante do mundo natural, é tomado por natureza dentro dessa lei. Desta forma a astrologia é uma ciência tão verdadeira e natural quanto a filosofia: «É natural uma vez que investiga os efeitos naturais, os quais se produzem no corpo natural daqueles que pertencem, que são naturais das estrelas... É ciência demonstrativa, se pensa das posições e movimentos dos corpos celestes, e das quantidades e suas paixões, como os eclipses, e o nascer do Sol; mas se trata dos efeitos, que se causam das estrelas e das nossas coisas inferiores, as quais sendo mutáveis podem em diversos modos impedir as operações e influências do Céu, ela é ciência conjetural, como com razão a chama S. Tomaso..." (Titi, op.cit. 1-3). Não pretendemos falar dos séculos a nós mais próximos: desde quando se vem legitimando uma mutável dimensão da cultura subalterna, ali foram colocados os desordenados resíduos de uma astrologia em fuga. Mas tudo isso é posterior aos nossos interesses. Até todo o Renascimento a astrologia fez parte da cultura científica e participa das vicissitudes do pensamento humano. Um certo tempo antes do fechamento da Escola de Atenas, o egípcio Rhetorio funda, sobre a autoridade dos archaioi e do método de Ptolomeo, uma atitude sincretista no proceder que parece antecipar o douto enciclopedismo bizantino.

Se Rhetorio representa a última grande figura da astrologia greca, o nascer da astrologia árabe remeterá idealmente a uma similar atenção à tradição dos archaioi e amplificarà o exagero graças ao conhecimento das culturas dos povos subjugados ao islamismo. A moderna historiografia precedente às grandes guerras acredita que o advento do Aristotelismo na cultura islâmica, em torno do séculoVIII-IX , representou um freio à especulação astrológica (c.a. Nallino, Recolha de escritos publicados e inéditos, Roma 1944, T.5, p.20). Na realidade é bem verdade o contrário, assim como os Gregos e os Latinos, também na cultura árabe nunca existiu uma separação entre astronomia e astrologia, mas ambas constituiam uma só ciência, al-nujûm. Albumasar justifica o caráter científico da astrologia sobre a base da filosofia natural de Aristóteles e declara a astrologia ciência completa e perfeita no sentido aristotélico. As maiores autoridades do Introductorium in Astronomiam di Albumasar são Aristóteles, Ptolomeo e Hermes (cfr. R.J. Lemay Abû Ma'shar and Latin Aristotelianism..., Beirut 1962, 41s). Foram essas as figuras emblemáticas da ciência astrológica durante toda a Idade Média.

Até todo o século XVI o astrólogo é sobretudo um filósofo que interpreta os movimentos do céu e as leis da natureza, ele é astrônomo e físico, não raramente médico, e se considera discípulo de Ptolomeo di Galeno, di Aristótoles. O seu pensamento é o pensamento clássico. Aristotélico foi de outra parte considerado Ptolomeo, pelos astrológos árabes e por aqueles medievais e renascimentais, aristotélicos os fundamentos de Albumasar e di al Kindi, aristotélica a formação física-filosófica dos astrólogos da Idade Média e do Renascimento. Mas quanto às considerações racionais, começará a vir atribuído, contrariamente à opinião de Aristóteles, uma espécie de certeza maior daquela oferta pela observação sensível, aquilo que era a rainha das ciências veio destronada e dissolvida. Estamos na metade do século XVI, a física aristotélica entra em uma crise lenta e infrene que preanuncia o illuminismo, embora assistimos a uma das mais significativas interpretações da doutrina astrológica de Ptolomeo fundada sobre uma leitura aristotélica do Quadripartitum na ópera de Placido Titi. Quando Luís XVIII fugia diante da águia imperial, o príncipe de Condé entende de dever informar se a Sua Majestade teria, apesar de tudo, completado o lavatório dos pés no humilde albergue do vilarejo, onde os tempos infelizes lhe haviam lançado longe o dia do aniversário da cerimônia.

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