domingo, 2 de setembro de 2007

O que é a Astrologia Clássica? ( parte I)


Autor: Giuseppe Bezza

Tradução: Daniela Scheifler Baile no Céu

O que se deve entender por Astrologia clássica? convém uma tal denominação em qualquer que seja o período da astrologia? É bastante dificil imaginar uma resposta afirmativa, ao contrário, vêm à mente outras perguntas: Quando e onde podemos situar o nascimento de uma doutrina astrológica a nós documentada? Existiria uma astrologia pré-clássica, um período áureo ou uma decadência? E se, como às vezes se afirma em alguns períodos da história das idéias, a astrologia se propõem a ser ciência, pode a nossa compreensão aceitar o nascimento, o declínio e o desaparecimento de uma ciência? Além disso: como poderemos chamar de ciência uma semiótica das aparências que nos parece o parto de um furioso espírito, mais do que da mente e da razão? Por parte dos antigos, já há tempos se fez justiça reclamando a sentença de Terencio: maus pensamentos, maus espiritos. Mas se quiséssemos ainda prosseguir e voltássemos a nossa atenção aos escritos dos antigos astrólogos, permaneceríamos desconcertados em frente a super abundância e a extrema variedade de procedimentos. Esses procedimentos, que podemos ainda hoje ler em uma vastíssima literatura manuscrita grega, latina e árabe, provêm, presumimos, de um corpus doutrinário egípcio e mesopotâmico, mas os antigos são de uma opinião diversa.

Onde nasceu essa pretensa ciência sideral que teve a intenção de unir a contemplação da suprema beleza dos céus às rigorosas leis físicas sobre aparências visuais, quase negando a dramática dicotomia de Shelley entre poesia e ciencia? É verdade que, se da decadência da astrologia podemos racionalmente discutir, uma vez que nos é próxima e, de qualquer forma, evidente que do seu primeiro manifestar não nos é dado saber. Todavia, permanecemos confusos em frente às cândidas e ingênuas declarações dos antigos sobre os inventores da Astrologia. Quando Santo Agostinho chama Atlas de maior astrólogo (de Civitate Dei 18,39; cfr. Plinio nat. hist. 2,31; 7,203; Vitruvio 6,10,6; Diodoro S. 3,60,2; 4,27,1) retoma a doutrina evemerista1 que transforma em sábios os heróis do mito, mas não só Atlante: Urano, Belo, Toth, Prometeu, Atreo e o Centauro Quiron também divulgaram a Astronomia aos homens. (cfr. Jo. Chr. Heilbronner, Historia Universal de Mateus em um mundo em harmonia com os séculos posteriores Chr.n. XVI, Lipsiae 1742, 54s.). Santo Agostinho ainda nos diz que Atlante era contemporâneo de Moisés, o qual era por sua vez, contemporâneo de Filone, matemático, astronônomo, geómetro, músico e filósofo excelente, e aprendeu com os Assírios a ciência dos Céus (Vida de Moisés 1,23). Mas ainda antes de Moisés foi Abraão quem ensinou matemática e astrononomia aos egípcios, que ainda não a conheciam. (Berosso, in Giuseppe Flavio, Idade Antiga 1,8,2; cfr. Eusebio, praep.ev. 9,16). Foram esses homens que receberam a ciência dos céus através de revelações.

Ao lado de uma tradição que deseja que Astronomia e Astrologia sejam ensinadas por anjos rebeldes (cfr. Libro di Enoch 8,4), os gregos consideravam geralmente que essas fossem reveladas dos deuses aos “reis caros a divindade” (Luciano, De Astrol. 1; cfr. Achille Tazio isag. 1), portanto por presente divino munere caelestum, como disse Manilio (1,26). Revelações das leis naturais que produzem as estações e as mudanças das vegetações, revelação da emanação e influxo sempiterno que do céu se estende naturalmente à toda lei física e moral terrena, seja ela coletiva ou individual.

Que o homem tenha percebido em uma época a nós remota uma símile e impar conexão entre céu e terra e que a essa se tenha em tudo conformado, não podemos duvidar: O imperador chinês, na sua qualidade de filho do céu, diante do céu era responsável pelos erros dos seus ministros. Não diversamente todo soberano, em todas as épocas, em todo o lugar, sempre sentiu a necessidade de apoiar o proprio direito divino à observação meticulosa do rito sagrado. Mas quais os conhecimentos astronômicos revelados? Sem dúvida, primitivos, mas também mais complexos do que se possa imaginar. Se hoje cada um sabe que a terra gira em torno do Sol, essa mesma noção prejudica a total compreensão dos fenômenos aparentes. Se Astronomia e a Astrologia têm um longo formato em tudo indissolúvel, dessa maneira que uma indica a outra e vice-e-versa, do mesmo modo, toda a lei da astronomia dos antigos, dos fora de centro até a oitava esfera, se põe como lei física e natural, marca episteme de uma lei celeste, fundamento do juízo e da previsão enquanto objetivo último do astronômo, o philalêthês, o amante da verdade. (continua)

1) Evemerismo substantivo masculino
Rubrica: filosofia.
interpretação filosófica, defendida por Evêmero de Messina (sIV e III a.C.), segundo a qual os deuses são personagens humanos, extraídos de relatos tradicionais e acontecimentos históricos, divinizados pelos próprios homens. Houaiss - Dicionário eletrônico da Lingua Portuguesa

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