domingo, 12 de agosto de 2007

A Scanner Darkly - O Homem Duplo



por Daniela Scheifler Baile no Céu

Em tempos de Inteligência Artificial, Web Semântica, Second Life, RFID (Identificação por Rádio Frequência, algo como aqueles aparelhinhos que estão presos aos produtos de lojas só que bem mais sofisticados, pois são uma espécie de chip capazes de controlar até mesmo aonde o produto foi parar depois de vendido). E também são tempos de terrorismo, fanatismo religioso, corruppção escancarada, difusão de informações e de drogas cada vez mais pesadas. A Scanner Darkly (O Homem Duplo, em português) é um filme, baseado num conto honômimo escrito em 1977, que traz muitas dessas problemáticas à tona.

Dirigido por Richard Linklater, o filme é baseado em um conto de Philip Kindred Dick, o mesmo escritor que inspirou o filme Blade Runner de Ridley Scott. No filme, atores como Keanu Heeves, Wynona Ryder, Woody Harrison e Robert Downey Jr encenam sob a técnica da rotoscopia, em que os atores são filmados normalmente para depois a filmagem ser transformada em animação a partir dos movimentos originais. A técnica já tinha sido usada em “Waking Life”, uma outra animação feita com diálogos intensos a respeito do sentido da vida, mas em A Scanner Darkly o trabalho gráfico é ainda mais poderoso, o que corrobora com a intensidade psicológica do filme.

Para os personagens - e para quem assiste o filme - é dificil precisar o que é realidade aparente e subjetiva, o que é real e o que é ilusão. Com temáticas tais como o mundo das drogas, o poder policial - em que policiais e bandidos não possuem uma clara distinção -, desenvolvimento e alienação tecnólogica e dificuldade de relacionamentos entre seres humanos, o filme traz à tona algo muito presente em tempos de Revolução Tecnológica, Globalização e Terrorismo Internacional: uma paranóia individual e institucionalizada.

O escritor americano Philip Kindred Dick, nascido em 16 de dezembro de 1928, teve ao longo da sua vida sérios problemas com drogas, casou-se e descasou-se muitas vezes, chegou a frequentar curso universitário de Alemão e Filosofia. No entanto, péssimo estudante, o escritor não conseguiu terminar o curso, em vista também da sua apaixonada atividade política. Philip, na época, opunha-se veementemente à iniciativa bélica americana na Coréia.

Sagitariano com Lua e Vênus no Aquário, as histórias de fantasia científica de Philip, malgrado em vida tenham sido subestimadas, hoje se mostram bastante reais e o escritor acabou por ser considerado pela crítica um dos mais visionários e originais escritores da Literatura Americana!!! O filme, através da animação, traz uma estética aquariana presente no livro e também um humor inteligente, visionário e mesmo corrosivo de um Saturno em Sagitário, além da capacidade de ir a fundo emocionalmente próprias de um Plutão e Marte em Câncer. Philip foi criado pela mãe que, tendo se divorciado bem cedo do seu pai, era extremamente possessiva e neurótica. Ele acabou por desenvolver uma personalidade contraditória, com posturas suspeitas e relacionamentos difíceis com as mulheres. Dificuldades essas que ele trouxe corajosamente para as suas obras.

Philip teve, sem dúvida, uma vida conturbada mas também uma produção bastante lúcida do ponto de vista literário. O livro que inspirou o filme, quase que autobiográfico, foi escrito como uma espécie de carta de amor aos amigos que se perderam no mundo nas drogas. Inclusive os atores Woody Harrison, conhecido como ativista pró maconha, e Robert Downey Jr, que já foi para a cadeia por uso de drogas pesadas, conseguiram manter (talvez justamente por isso), durante o filme, o humor do início do livro em que seus personagens mantêm diálogos chapados sobre assuntos diferentes. O filme conta ainda com o Neo de Matrix, trilogia que faz inúmeras referências à obra de Philip, e Wynona Ryder.

Na foto acima, Fred, o personagem de Keanu Reeves, numa das memoráveis discussões com seus dois hemisférios cerebrais: o direito e o esquerdo.

Imperdível!

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