quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Tábua na dispersão (ou Netuno sobre Saturno)
Hoje acordei arrebatado pela dispersão. As tentativas anteriores de escrever esse texto (várias) resultaram em sucessivos retornos à tela vazia: estaca zero, limbo primordial, o nada que insiste em querer dizer tudo. Já me conheço o suficiente para saber que não adianta duelar contra esse impulso nevoento, tentando forjar do caos de infindas possibilidades a costumeira narrativa linear. O jeito é me entregar. É o preço de quem se acostumou a ser franco no que cria. Então, sorry, baby, mas hoje a crônica sai sem pé nem cabeça, pois a alma – base de tudo – quer divagar. Que assim seja, quem sou eu para querer mandar numa alma elástica.
Mas insisto em vagas conexões de lógica, ainda que do passado. A palavra elástica, por exemplo, me remete logo a uma antiga mesa da família que aumentava de tamanho com a inclusão de uma tábua no meio. Criança, eu achava graça de chamarem mesa elástica a uma mesa tão dura quanto as outras. Elástico, para mim, era o cordão flexível que ajustava ao corpo o calção de moleque que eu usava. Mas uma mesa? Até entendia que a tal elasticidade era por causa da possibilidade de a mesa crescer e voltar ao tamanho original. Mas achava o termo impróprio. Ainda acho. Não espero de uma mesa que seja elástica. De mesa, espero firmeza – e não peço perdão por trocadilhos.
E volta o mar de neblina da dispersão, e agarro-me ao que parece sólido, como tábua de salvação. De novo, a tábua. Como a porta da rua. Todo ano é igual: o sol do começo de janeiro, nascendo mais ao norte do horizonte, no meio da manhã incide certeiro na entrada do meu apartamento. Parece querer invadir os espaços da sala, a ponto de uma nesga luminosa se insinuar por debaixo da porta. Sol de verão é assim mesmo, não se contenta em ficar lá fora. E me traz em casa a sensação praieira de contemplar as ondas, em total devaneio, escorregadio de lógicas, ao modo dos peixes. Onda vai, onda vem, eu indo com elas, longe daqui, mas bem aqui: elástico, virando a mesa do real. No fim, esse texto virou uma quase tábua, bóia no mar disperso. Mas tudo agora se dissolve. Diz. Sol. Vê?
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
Co & Rência - uma dupla caipira
Nesse sentido os horizontes de ontem que entram em contato com o universo astrológico, se ampliam. Inicia-se um olhar mais profundo sobre as situações em todas as áreas do saber. O senso de justiça se modifica com este olhar mais aprofundado, o exercício da política, as relações afetivas,o trabalho diário, tudo muda de cara.
Muitas vezes defendemos uma idéia, uma pessoa ou assumimos uma postura acirrada, cuidando para não cair numa contradição, criando argumentos e teorias que, de nenhuma forma sejam incoerentes. Essa postura cria um grande desgaste visto que mais cedo ou mais tarde, dependendo da sensibilidade, somos "seduzidos" pelo lado oposto, pelo "outro lado". Claro que essa "sedução" se dá de forma muito disfarçada, vamos lentamente achando interessante a outra argumentação e, dependendo do índice de netuno em nosso mapa, a contradição pode acontecer quase imdediatamente após defender uma idéia.
Não importa muito se é imediato, como pode ser nos casos de signos de água mais dissolvidos, ou lentamente como em signos de terra mais científicos, a incoerência aparece, é uma questão de tempo.
Não adianta ficar com vergonha, esconder, disfarçar ou querer se convencer de que estava enganado. Não houve engano algum, o que aconteceu foi um processo natural de contato com o "outro lado".
Esse tipo de fato é o que a Astrologia e o mapa nos mostram de forma muito clara, todo signo tem um oposto que precisa ser levado em consideração, pois temos todos os signos em nosso mapa. Estamos aprendendo uma outra coerência, aquela que contempla os 2 lados deste mundo dual, aquela que aceita mais e não se obriga a ser portadora de uma retidão divina, afinal de contas somos humanos mesmo que em fase de aprimoramento desta humanidade...
abraços e beijos in-co3rent3s
êDuArDo
duastro@terra.com.br
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
ONDE VOCE ESTÁ AGORA?
Por onde tem andado? Tem se escondido muito....ou pouco, mas tem se escondido?
Quando a Morte bate à porta , qual é o som da sua batida?
Plutão entrou sem bater e trouxe consigo uma noção de estado, como estamos, em que estado?
Às vezes para sair de um estado latente é preciso uma conexão própria e intensa. Própria no sentido de apropriação, propriedade de si mesmo, posse daquilo que se tem, posse do que é seu. Sair da impressão que vem de fora, sair de fora e ir para dentro. Percorrer um caminho , discordar , acordar, desenrolar-se por completo, mostrar o que é seu.
O tempo vai passando, Saturno caminha, ouve-se o som de sua pegada firme e constante, não há engano, não há tempo perdido, há o caminho do caminhante, o passo.
Agora no tempo de Plutão pode-se perceber o som interno, o silêncio do tempo no espaço que nos compete!
Respirar o que estamos fazendo nesse exato instante, respirar nosso estado de agora!
Acolher, acolher, acolher aquilo que se está sentindo.....tudo passa.
Desafiar é uma palavra bonita e necessária, saber desafiar, mandar vir, que venha ....sem exclamações....
reticências
O que se pode perder? Afinal de contas quem é esse outro na sua frente, o que (quem)ele desperta?
De quem nos defendemos? É preferível enfrentar os bichos do que ficar acorrentado numa redoma de si mesmo,
ruminando idéias e imagens com as quais nos identificamos por muito tempo. A morte não mata nada, apenas ajuda a Vida a ser Viva!
Pra se desamarrar é bom iniciar pela respiração e continuar .....
O tempo
Em tempo
A tempo
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Contos astrais: Capricórnio
Ele já sabia que do alto do pico dava para ver, ao longe, toda a Baía da Guanabara, com seus recortes naturais a irradiar calores praianos. Respirou fundo e preparou-se para a grande escalada: quase mil e setecentos metros, até o cume do imponente Dedo de Deus. Uma ligeira névoa ainda encobria a paisagem do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Os dois guias iam à frente, parecendo alheios ao poder da grande rocha e à grandeza da empreitada que se iniciava. O mais velho devia ter uns 40 anos. O outro, um rapagão de não mais que 25. Na véspera, quando do acerto da aventura, o mais velho foi curto e seco: “Você está pagando para obedecer ao que eu mandar.” O ríspido tom de autoridade da sentença do outro despertou-lhe uma ponta de raiva: afinal, ele tinha experiência em escaladas, não era nenhum irresponsável. Como sempre, a razão se impôs: fosse ele o guia, agiria da mesma forma. Numa jornada de alto risco como aquela, não se pode dar ao guiado o direito a improvisos. É obedecer, e pronto.
Duas horas mais tarde, cumpridas as etapas iniciais, ele já se encontrava dependurado na corda de náilon, sentindo o frio do vento abismal. As mãos untadas de carbonato de magnésio, para melhor segurar, buscou o telefone celular no bolso do colete. Devia ligar para ela, avisar que tudo corria bem, saber como andavam suas dores. Mas o aparelho estava sem operação, talvez por causa da altitude. Pensou em perguntar ao guia e ao assistente se os celulares deles funcionavam. Não quis incomodar. Haveria no caminho algum degrau mais saliente, onde pudesse descansar, e ali, quem sabe, telefonaria para a mulher. Mais ansioso estava com a chegada do trecho conhecido como chaminé, uma fenda que exigiria artifícios de aranha na escalada, com pés e mãos dispostos na geometria que o guia explicara lá embaixo. Até a noitinha já deviam estar de volta ao sopé da montanha, tendo ele deixado seu registro de conquista no topo do majestoso Dedo de Deus.
A vista dali era espetacular, com Teresópolis parecendo uma cidadezinha de brinquedo. Localizou a área onde ficava a pousada e onde a mulher o aguardava, possivelmente vendo tediosos programas matinais na televisão. Nisso um deslizar de asas chamou sua atenção, entre os estampidos secos de um ou outro pino cravado na rocha. Era o planar de um urubu. Num segundo a memória o conduziu a um tempo remoto da infância, quando morrera a velha cabra leiteira do avô. O cadáver tinha sido jogado num matagal e ele ia todo dia espiar o trabalho dos urubus, indiferente ao mau cheiro e ao enxame de moscas. Menino calado, criado pelos avós. Sem emoção, olhava os restos da cabra e pensava no que seria de si quando os avós morressem também. Menino estranho, que aprendeu cedo a não contar com ninguém para viver.
Achou graça de como um urubu o tinha remetido a lembranças tão antigas. A mulher achava esquisito ele nunca falar da infância e nem dos pais. É que a vida para ele tinha realmente começado quando acabou o serviço militar e, com a pequena herança deixada pelo avô, abriu a seguradora patrimonial que até hoje lhe toma todo o tempo. Achava nobre garantir a posse do que se conquistou com muito suor. Era boa a sensação de ser importante para a sociedade E era muito bom perceber esse valor ali, acima de tudo, nas alturas de uma rocha que queria tocar o céu. Súbito, sentiu uma leve tontura. Devia ser a pressão, coisa normal em escaladas. Respirou mais fundo. Talvez fosse mesmo hora de dar uma parada, e de ligar para a mulher.
O urubu insistia numa estranha amizade com ele, rondando por ali. Ou não seria amizade, e sim um mau agouro, um instinto de ave carniceira de tê-lo morto como comida? Sacudiu a cabeça para afastar esse pensamento e trazer à baila a sempre lúcida razão. Nenhuma vertigem deveria lhe tirar o controle lógico das circunstâncias. E nada de preocupações! A mulher passava bem, com certeza. Dois dias antes, ela tinha escorregado na laje de pedra sob uma cachoeira e quase fraturou o joelho. O médico tirou radiografias, enfaixou o local contundido, pediu repouso absoluto, receitou a medicação analgésica. Ele não tinha culpa de as férias dela terem terminado ali. E nem ela. Foi obra do acaso, do destino, do dedo de Deus, sabe-se lá. E se ninguém tinha culpa, ele não podia desperdiçar a oportunidade de escalar o pico de suas ambições...
Um grito do guia avisou: a fenda da chaminé se aproximava. Então, nada de descanso agora. Toda concentração seria pouca. Olhou os telhados de Teresópolis bem lá embaixo. A senhora dona da pousada devia estar obedecendo ao seu pedido de a cada hora ir ao quarto deles ver se a mulher precisava de algo, se sentia dores. E o bebê dentro dela? Gravidez de dois meses podia ser arriscada em sustos, quedas... Ora, ninguém tinha culpa da queda! Ou tinha? Na verdade, a mulher queria passar o Réveillon, dali a três dias, em Copacabana. Era seu desejo antes de ser mãe pela primeira vez. Ele a dissuadiu da idéia, falando das maravilhas da Serra dos Órgãos, do Dedo de Deus, seu desejo de alpinista. Sim: ele tinha manipulado a vontade dela em proveito próprio. E ela devia estar aflita, porque ele ainda não telefonara. Devia desistir? Voltar para ficar com ela? Ceder a emoções de medo e culpa? Não! Nem era hora de pensar nisso. Tomou fôlego e, absolutamente determinado, seguiu os guias para dentro da fenda na rocha, rumo ao topo.
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Contos astrais: Virgem
Ninguém merece isso! Uma hora e meia de espera! É muita falta de respeito! Por que diabos marcam hora de consulta? Se fosse ele o atrasado, no mínimo nem seria atendido. Olhou de novo o relógio. Quis pegar outra revista de futilidades, mas já tinha folheado todas. Será que revista de consultório médico não pode ter conteúdo? A irritação reavivou o incômodo nas entranhas. Não uma dor aguda, mas uma sensação esquisita, como se um bicho estivesse caminhando pelas volutas de seu intestino. Deve ser um alien, pensou, imaginando-se explodindo para libertar um pequeno monstro intergaláctico que devia ter se alojado em seu interior. No dia da primeira consulta, o médico perguntara se ele era calmo ou controlado. Teve que rir quando admitiu um auto-controle absoluto. Como ser diferente? Como não se importar com tanta imbecilidade, tanto desrespeito?
A mão suava, segurando a coleção de radiografias dos exames feitos. Em casa ele tinha olhado o laudo dos resultados: termos médicos, de difícil compreensão. Foi pesquisar cada um na internet. Ficou assustado com umas tais diverticuloses. Não foi disso que morreu o Tancredo Neves? No resto, a certeza de uma úlcera em formação. Já sabia de tudo: o médico iria prescrever uma dieta rigorosa, remédios mais fortes que os da gastrite e calma, muita calma. Baita ironia recomendar calma ao paciente quando o próprio doutor não o respeita, deixando-o nessa sala horrenda de tons pastéis e quadros de uma paz falsa, no meio de uma gente vítima de problemas gástricos e intestinais. A secretária ainda teve o desplante de vir pedir a ele que desse a vez a uma senhora de idade. Disse sim, sempre dizia sim, sempre fazia favores. Chega! Iria embora dali já! Imaginou-se batendo a porta e soltando um palavrão cabeludo, mas apenas disse à atendente que precisava sair e que marcaria outra hora. Tudo muito educado. Sempre muito educado...
Voltou a enrolar as radiografias em canudo e as guardou na mochila, agora sem preocupação de que amassassem. Definitivamente não queria mais pisar os pés naquele consultório nem ver a cara daquele médico. Saiu caminhando pelas ruas do centro da cidade. A mãe iria questionar seu gesto desarvorado de sair sem ter sido atendido. Pensou numa desculpa. Muita gente, urgências chegando, teve que dar a vez a uma senhora – e isso nem era mentira. A mãe. Limpe os pés, lave as mãos, estique o lençol, tire os cotovelos da mesa, não mastigue de boca aberta, não molhe a borracha de saliva, não risque o livro de caneta. A mãe. É para o seu bem, não reclame, coma tudo, engula o choro, não deixe o gato subir na cama. Nessa tarde ele não voltaria ao trabalho. O pai sabia dos exames. Entenderia a demora. O pai. Outra casa, outra mulher, outros filhos, irmãos pela metade, sem nenhum afeto. O pai. Um homem trabalhador, a quem obedecia, mas não amava. Seu pai, seu patrão, carreira promissora como gerente exemplar na rica empresa de limpeza industrial.
Andando a esmo, sentiu-se confuso, talvez percebendo a proximidade da culpa pelo que fizera. Detestava a sensação de culpa, mas vivia dentro dela. Culpa de ter cursado administração de empresas e não veterinária; de ter silenciado, por medo de um não, ao amor que sentira na adolescência; de ser como era, de ser quem era, com esse nome estranho: Astreu. Alvo de gozações desde criança. Astreu, tua língua o gato comeu. Astreu, pega no meu. Mas era o mesmo nome do avô, a quem ele adorava. Por isso nunca reclamara. O avô. Vivia sozinho num sítio, de onde nunca quisera sair. Vô Astreu. Esse sim, era feliz, longe dessa imundície de cidade corrupta. Um ganido lancinante o tirou das lembranças do avô e ele viu o cão de rua sair se arrastando, curvado ao meio, uivando de dor depois do brutal chute nas costelas dado pelo homem da fruteira. Nunca tinha reagido assim, mas num impulso gritou ao outro que fosse chutar a própria mãe. Babaca! Covarde! Monstro! Covarde!
O homem da fruteira pegou um porrete e veio em sua direção. Era imenso. Vermelho e imenso. E o porrete na mão, olhos injetados de ódio, praguejando de volta sua fúria contra o rapaz franzino que ousara desafiá-lo. Um rapaz que não arredara pé do lugar, ali, do outro lado da rua, sustentando na boca raivosa o vil xingamento de covarde, covarde, e a mãe no meio. Ah, esse moleque besta vai receber sua lição, vai sim. Vai saber quem é babaca, quem é covarde. Vai latir mais do que o cachorro sarnento que ele quis defender. É melhor correr, desgraçado! Vamos, corre. Corre, senão vou ter que te arrebentar. Vou te cobrir de pau, sacana. Não vai correr? Quer me diminuir? Então quer me encarar? Toma, toma, toma, toma, seu cachorro. Não vai gritar? Toma outra, toma mais...
Tudo muito rápido. Um zunido na cabeça, se afinando, afinando, até sumir. O silêncio e o branco. Depois o verde. Mato? Água? Vô Astreu o ensinando a nadar. O riacho morno correndo, passando através de si. Ele mesmo uma fonte quente. Tudo ficando mais longe. Tudo indo e vindo. Noite e dia, de repente. Fiapos de vozes. No meio do branco, o avô sentado na porta da casa de madeira. Ele no colo do avô. Ecos da passarada ao anoitecer. Ninhos nas árvores, bichos andando soltos, felizes, entre arbustos e flores. A vida inteira feliz. Ele voando. Um mundo perfeito.
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Contos astrais: Touros
Mal desceu do táxi, no centro da cidade, ele sentiu a força do perfume natural que emanava das laranjeiras e limoeiros dispostos nas calçadas como árvores ornamentais. Talvez por causa do calor da primavera, o aroma cítrico vibrava quase visível no ar, irradiando uma sensação de limpeza com pitadas de entusiasmo. Sabia que ia gostar de Sevilha. Foi só por hábito que agiu como nas outras paradas, deixando a bagagem no guarda-volumes da estação ferroviária e vindo explorar a cidade apenas com a mochila. Agora era só achar um hostal econômico e ir buscar a mala. Não demorou para ser interpelado por guias turísticos e donos de charretes: propostas de um passeio típico pelas ruas sinuosas e apertadas de antigamente. Não, não, gracias. Queria pisar na terra andaluza, sentir mais aquele cheiro magnético, olhar os arabescos e azulejos das casas e prédios e escutar a cantilena de vozes e ruídos dessa terra de gitanos e flamencos. Queria estar cansado quando a noite chegasse e ele viesse a desabar na cadeira de um bar para embriagar-se de vinhos e sensações.
A outonal manhã chuvosa de maio ia ao meio quando Ariadne terminou o desenho. Retocou com a borracha um detalhe da jóia maior, ao centro da gargantilha. Gostou do trabalho. Começou a pintar cada parte. Seria verde esse elo central, o maior de todos, a única pedra em meio a recortes polidos de chifre bovino. Enquanto mexia o pincel na aquarela, olhou o relógio. Tinha combinado de almoçar com uma amiga. Ariadne desconfiava de que estivessem aprontando alguma festa surpresa, para o dia seguinte, quando faria aniversário. Mas ela decidira desaparecer, esconder-se nesse dia, sem dar o paradeiro a ninguém. Não estava a fim dessa benéfica mas incômoda solidariedade dos amigos para com alguém em situação de dor. Que a deixassem lamber as próprias feridas. Um dia isso passaria. Aliás, já estava passando. E voltou a prestar atenção no projeto de gargantilha que iria ainda hoje para a confecção, a tempo do desfile no final do mês.
No segundo dia em Sevilha, ele só confirmava uma familiaridade misteriosa e excitante, que o fazia por momentos esquecer de sua condição de estrangeiro. Agora ia explorar a margem do grande rio Guadalquivir, de águas barrentas e mínimas praias arenosas faiscando sob o sol de Andaluzia. Não olharia o mapa. Ficaria na cidade tempo o suficiente para descobri-la andando, perdendo-se de bom grado pelas callejas. Nem que todo o dinheiro que ainda restava da venda do terreno fosse gasto ali. O terreno no Brasil. Grãos de areia do Guadalquivir. Tudo se desintegra. Tudo acaba. Era melhor esquecer disso... Avistou a arena monumental da Plaza de Toros de la Maestranza e para lá se dirigiu. A temporada de touradas tinha começado havia um mês. Ficou seduzido pela pintura em azulejos de um touro negro arremetendo contra um matador de capa rosada em punho. Legítima fúria animal. Não a placidez apática de bois gordos, esperando o abate, mas a reação instintiva de macho. Ele lembrou de quando vira, na fazenda do tio, peões na castração de novilhos. O animal laçado nas patas, derrubado, pescoço torcido, testículos amarrados. E a faca afiada. E o corte sangrento. Caía um touro, levanta-se um boi manso. Sentiu um nó na garganta. Não nascera para boi. E ali estava, livre, no mundo, sem apegos.
O caseiro da chácara se espantou quando viu chegar o carro da irmã da dona da casa. Ninguém aparecia ali durante a semana. Ariadne disse que ia ficar até o dia seguinte, precisava de sossego para estudar. Logo trocou de roupa e tomou a trilha que ia até o rio. Silêncio gotejante na mata úmida. Dia de aniversário, tempo nublado. Ele estava bem longe, ninguém sabia onde. O noivado, desfeito com rancor, sem diálogo. O terreno dos sonhos, vendido. Casa, casamento: nada mais. Tudo por um desejo insano, dela. Aventura de nada, coisa ridícula, carnal, mas traição, sim. A verdade não livra ninguém da culpa e nem da dor. Podia ter ficado calada sobre o fato, mas o amava e quis falar tudo. Ainda o ama, admitiu. E chorou junto com a chuva que despencou ruidosa sobre a mata.
Noite alta. A cantora morena no palco tinha uma voz forte e aveludada. Era gorducha, de cara redonda e simpatia maternal. Numa mesa, sozinho, ele tomava a terceira jarra de vinho tinto, mordendo petiscos de calamares empanados, quando escutou uma canção conhecida. Música brasileira, com o sotaque espanhol da mulher. “Só louco, amar como yo amei, só louco...” Canção de Dorival Caymmi! “Oh, insensato corazón, por que me hiciste sufrir?”. Fosse pelo vinho ou pela solidão de viajante, ele sentiu ganas de explodir, sair correndo. Quis abraçar a cantora, quis chorar. Quis até ligar para o Brasil. Perdoar tudo. Aniversário dela, lembrava sim. Mas ficou ali, emoção contida, o petisco borrachoso rolando na boca, sem engolir. Travo na goela. Dores precisam de tempo.
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
III Jornada Gaúcha de Astrologia e Transdisciplinaridade
De minha parte, se desse para atravessar o oceano a nado, eu teria ido, pois a programação estava imperdível.
CRONOGRAMA:
18:00 – momento arte – apresentação de trabalho dos alunos do BVI
19:30 – Céu do Mês – Edson Souza (Porto Alegre / RS)
Terça-feira – 02 de outubro
18:00 – momento arte – Carla Renner (voz e violão)
19:30 – Mente uraniana – céu, terra e liberdade – Eduardo Krug (Porto Alegre / RS)
Quarta-feira – 03 de outubro
18:00 – momento arte – Lançamento do livro “Alumbramentos” (poemas da astróloga Isabel Mueller)
19:30 - Constelando o céu interior - Isabel Mueller (Santa Cruz do Sul / RS)
Quinta-feira – 04 de outubro
18:00 – momento arte – Juliana Wexel (teatro)
19:30 – Astrologia e literatura: a ficção simbólica de Caio Fernando Abreu - Amanda Costa (Porto Alegre / RS)
Sexta-feira – 05 de outubro
18:00 – recepção
19:00 – Astrologia construtivista – uso do mapa para a reabilitação pessoal, profissional, emocional e espiritual – Maurício Bernis (SP)
20:30 – Trânsitos de Júpiter e Plutão na astrologia médica: portais iniciáticos – Lúcia D. Torres (Porto Alegre / RS)
sábado – 06 de outubro
08:30 – minicurso com Maurício Bernis (SP) – Vocação e realização pessoal
14:30 - A um novo céu, uma nova Terra - Antonio Carlos (Bola) Harres (RJ)
15:30 - debate
16:00 - intervalo
16:30 - "Astrologia Transplutoniana: Integrando Éris e Sedna à interpretação de mapas pessoais e coletivos" - Fernando Fernandes (RJ)
17:30 - debate
18:00 - encerramento
domingo – 07 de outubro
09:00 – Aquecimento global e astrologia – Décio Domingues (Porto Alegre/RS)
10:00 – debate com a participação dos palestrantes da Jornada
11:00 - encerramento
13:00 – 17:00 – minicurso com Fernando Fernandes (RJ) – Trânsitos, ciclos planetários e imunodepressão
OBS - todo o evento será realizado na sede da UNIPAZ-SUL. É obrigatório o uso de crachá durante o mesmo.
UNIPAZ-SUL – R. Miguel Couto, 237 - Menino Deus - Porto Alegre / RS –
fones (51) 3232-5590 / 91
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Contos astrais: Sagitário
Diante da portinhola da cabine de madeira antiga, ela sentou e, com um pigarro, anunciou sua presença.
“Padre, eu queria falar com o senhor. É uma coisa que eu nunca contei a ninguém...”
“Abra seu coração, minha filha. Não há falta que Deus não possa perdoar, se há arrependimento.”
“A história é meio longa. Vou começar do começo. Um ano atrás, conheci um homem e me apaixonei na hora. Foi na fazenda de uma amiga minha. O pai dela cria cavalos de raça, tem um haras e tudo. Esse homem apareceu suado, montado num puro-sangue marrom. Lindos, ele e o cavalo. Abriu um sorriso enorme pra mim, assim, de simpatia natural, e acenou. No ato me lembrei do Capitão Rodrigo Cambará, do Erico Verissimo. Era o mesmo jeito conquistador e folgazão. Eu fiquei hipnotizada. Fui seguindo ele com o olhar, ele se misturando aos outros jóqueis da fazenda. De onde eu estava dava pra escutar a gargalhada dele, esbanjando alegria. Fiquei ainda mais louca quando ele desceu do cavalo e exibiu um par de coxas maravilhosas na malha branca da calça de montaria.”
“Não precisa entrar em detalhes, minha filha...”
“Desculpe, padre. Sou muito direta e esqueço que as pessoas têm pudores. Pois bem. Depois do almoço, os outros da casa tinham ido pra sala jogar cartas, e eu, com uns uísques na cabeça, pedi a ele pra me ensinar a cavalgar. Nessa altura já tinha rolado o maior clima entre a gente. Ele foi na garupa do cavalo, me ensinando a pressão certa da rédea. Não quero constranger o senhor, mas naquela tarde eu tive a mais intensa experiência de amor, no meio do bosque da fazenda. Combinamos em tudo, até nos excessos. Ele contou que era casado, mas que ia se separar da mulher, uma advogada muito ciumenta, que usava o filho deles como desculpa para mantê-lo preso num casamento de fachada. Desde então a gente não passou mais de dois dias sem se ver. Ficou claro que a gente nasceu um para o outro. Só que eu comecei a me cansar de ser a outra, do medo dele de ser descoberto comigo. Não sou ciumenta, padre. Também adoro liberdade e viveria muito bem com ele assim, cada um na sua casa. Mas ficava furiosa com as coisas que ele contava da mulher. Tudo bem, ele também se mostrou meio frouxo em aturar passivamente os desmandos daquela bisca medonha. Eu temia dar uma prensa nele, do tipo ou ela ou eu, e passar uma imagem de dominadora. Foi aí que eu decidi tomar umas providências. E descobri a escola em que o filho deles estudava.”
“Deus pai! O que você fez, filha?”
“Não se apavore, padre. Eu mesma, diretamente, não fiz nada. Já conheço bem o meu homem. Meu centauro é muito doce, muito desligado de tudo, só pensa em campeonatos aqui e no exterior e em virar treinador de jóqueis. Sei também que ele só reage quando tem o orgulho ferido, quando se sente enganado. Pra acabar de vez aquele casamento, só se ele descobrisse que a mulher o traía. Segui ela umas vezes, da saída do fórum, da saída do escritório. E nada que desse pinta de algum caso. Então eu pensei em criar um lance comprometedor pra ela. Eu tenho um amigo, um ex-namorado, que não tem encanações com falcatruas. Ofereci uma grana boa pra ele fazer um servicinho mole-mole, em duas etapas. Descobri os dias em que a mulher pegava o menino no colégio e os dias em que era o pai que ia lá... Está ouvindo, padre?”
“Sim, pode continuar.”
“Achei que o senhor estivesse cochilando. Meu amigo passou na saída da escola e pediu ao menino que entregasse à mãe uma caixa de bombons. Ele disse ao guri que era namorado dela, mas que o pai dele não poderia saber. Na outra semana, meu amigo voltou lá, no dia em que o pai iria buscar o filho, e deu ao pestinha um presente, um binóculo, que me custou uma fortuna, com o pretexto de que precisavam se tornar amigos. Logicamente o pai iria querer saber de tudo e a bomba explodiria. Sei que ele quando encasqueta com uma coisa, fica surdo e cego, cabeça dura total. E deu tudo certo, padre. Estamos vivendo juntos há dois meses, muito felizes. A separação corre no litigioso, porque ele não quer ver a ex-mulher nem pintada.”
“Mas você está arrependida do que fez...”
“De jeito nenhum. Foi o único jeito de ele terminar de vez o que já estava acabado. Só assim ele viu a megera com quem tinha se casado. Fiz um favor enorme pra ele e pra nossa felicidade.”
“Minha filha, o que você fez não foi certo.”
“E o que é certo, padre? Viver infeliz? Ele viver preso a um casamento falido? Eu ficar longe de quem amo porque outra mulher manipula meu homem?”
“Você também manipulou, mentiu. Quando ele descobrir, vai te abandonar.”
“Só se o senhor contar. Mas segredo de confissão é sagrado, não é padre?”
O padre ficou mudo, de olhos arregalados. E ela explodiu numa gargalhada:“Desculpa, padre. Sua cara de pânico me cortou o coração. É tudo mentira. Eu sou atéia, Odeio padre, odeio igreja, e tinha essa fantasia de inventar uma história de falta de ética que deixasse um padre sem ter o que dizer no confessionário. Mas o senhor me perdoa, não? Dar a outra face é cristão, não é, padre? O senhor me perdoa de coração, padre? Ou, na real, tem vontade de me dar um coice violento e me expulsar daqui?”
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Agenda NEARS
sábado, 22 de setembro de 2007
Contos astrais: O leão
Sentiu outra vez a repentina pontada no coração, uma dor mais aguda do que a de ontem. Reclinou a poltrona e afrouxou a gravata, tentando respirar fundo e devagar. Percebeu que estava pálido pelo susto da secretária, quando esta entrou na sala para anunciar o começo da reunião. Ele disse que estava bem, que já ia, que não precisava de nada, que apenas o deixasse quieto só um instante. Mas ficou muito preocupado. Lembrou logo do pai e do tio – família de corações fracos. Não devia facilitar com isso: antes de sair, tomou coragem e ligou no telefone celular para um grande amigo, médico cardiologista. O outro exigiu vê-lo com urgência no horário de almoço, única brecha na agenda de ambos. Com o súbito ânimo de quem se percebe protegido, seguiu para a reunião, que não podia prescindir do devotado presidente da empresa.
Passava do meio-dia quando ele saiu do prédio. O sol a pino lhe ofuscou a vista. Esquecera os óculos escuros em cima da mesa! O relógio avisou que não daria tempo de almoçar em casa e chegar para a consulta. Pensando bem, era até conveniente não encontrar a mulher. Não queria se aborrecer de novo com a mesma questão. Telefonou com uma desculpa: almoço inesperado, executivos do Japão. Sem fome, mal entrou no carro para ir ao consultório do amigo, ouviu o celular tocar. Ele. Ia se atrasar um pouco, coisa de meia hora. O que fazer, então?, foi pensando, enquanto dirigia. Decidiu: caminharia um pouco sob as árvores da alameda onde ficava a clínica. Seria bom. Logo estacionou defronte e saiu a bater pernas, vendo o sol varar as folhas parcas do inverno, a luz mortiça irradiando uma vibração perigosa. Perigosa porque era impossível não pensar na causa de sua dor. O filho. Sua única cria. Justo ele! Seu ouro, seu tesouro, sua aposta, sua vida. Uma punhalada! Foi o que sentira no coração...
A alameda da memória fez ressurgir o menino louro, de sorriso irresistível em maçãs salientes e olhos amendoados. Um pequeno deus! Ele, o pai, tinha sido o chão sobre o qual brincara cheio de vontades esse ser iluminado. Presente dos céus: o filho mais lindo, mais magnético, de carisma absoluto. E, bênção suprema, o moleque adorava ir ao escritório! Amava olhar a cidade pela vidraça do quinto andar! Querido do pai, mimo de todos, corria livre por todo canto, até na sisuda sala de reuniões. Gostava de saber que aquilo tudo seria seu, ou melhor, já era seu. E o pai deixava de lado as resoluções importantes para ouvir o chamado insistente do filho a apontar da vidraça as miudezas da rua lá embaixo. Um presente de Deus! Por esse filho fez tudo. Concedeu todos os luxos, atendeu a todos os desejos. E por causa desse filho agora podia morrer! Oh dor! Se a vida humana é drama, nada além de tragédia, então ele agora sentia no peito a piada dos deuses. Seu tesouro era ouro de tolo!
Entregue aos pensamentos, nem notou que já caminhara por várias quadras. Estava bem em frente ao jardim zoológico. Ainda tinha tempo, por isso tomou o caminho de entre as jaulas dos bichos, embora soubesse que isso fatalmente o faria lembrar ainda mais do filho. Por que, meu menino? Por que você foi fazer isso comigo? Você cresceu dizendo que queria ser igual a mim. E eu fechava os olhos para seu cabelo louro comprido, suas tatuagens, sua guitarra barulhenta, seus deslizes. Você quis estudar para melhor administrar nosso negócio, e eu me senti nas nuvens. Aí, meu menino, agora você me diz que já tem 20 anos, que é dono do seu nariz, que minha vida é um lixo e que não quer viver na minha sombra. Como, meu filho, se eu é que gravitei em volta da sua luz? Você me avisa que abandonou a faculdade, que vai estudar teatro na Inglaterra... E me revela, assim, sem mais nem menos, na mesa do café, que ama outro homem e que vai embora com ele... E que sua mãe sempre soube disso e que o apóia... Você me traiu, meu filho!
Seguiu andando, alheio aos gritos dos macacos, no zoológico quase deserto daquela primeira hora da tarde. Quando deu por si, estava diante da jaula do leão. Dupla proteção, de arames e grades, encarcerava o tal rei das selvas. Na placa, o aviso de perigo e o nome científico: Panthera leo. O leão dormia, solitário, com o corpo estirado na magra nesga de sol que invadia a cela. A juba dourada, embora maltratada, ensaiava um ligeiro brilho nos raios de luz. Quanta crueldade!, pensou. Esse animal não nasceu para tamanha humilhação! E a juba... essa juba... qual uma loura cabeleira... De súbito, o choro lhe brotou da cara aos borbotões, sem óculos de sol para esconder. Deus, como se podia permitir uma violência dessas? Por que reduzir um bicho tão vistoso, de natureza livre, a um quadro tão deprimente?
Aquele leão... E ele caiu em si. Como podia prender o filho a uma vida que não era a que o rapaz queria mais? Que direito era esse, que ele chamava de legítimo amor? Estava aos soluços, quando o telefone tocou. O doutor chegara. Era hora de começar a se cuidar. Precisava viver muito ainda. Tinha um filho único a amparar. Um filho que o estava ensinando que amar também é dar ao outro a liberdade de ser sempre fiel ao próprio coração.
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
MOMENTO ASTROLÓGICO - EQUINÓCIO DE PRIMAVERA
Texto de Lúcia D. Torres Astróloga, educadora e terapeuta, coordenadora do curso de Formação em Astrologia da UNIPAZ-SUL, diretora desta instituição e vice-presidente da CNA (Central Nacional de Astrologia).
Assim sendo, sob o olhar astrológico, o ano realmente inicia quando o Sol, na sua trajetória anual, encontra-se no grau zero de Áries, em 20/21 de março ( e não na passagem do 31 de dezembro para 1º. de janeiro, como comemoramos desde a mudança de calendário instituída por Júlio César). Ao levantarmos o mapa deste momento, temos uma projeção das oportunidades e desafios coletivos que o ano vindouro nos apresenta. Podemos observar estas tendências sob vários enfoques, como, por exemplo, no âmbito da astrologia mundial (associada a questões econômicas e políticas). Vários astrólogos, como Barbara Abramo e Antonio Carlos Harres, se dedicam a isto.
Prefiro sugerir, aqui, uma reflexão mais ontológica, ainda que breve, já que o mapa do ano tem o ascendente em escorpião – é imperativo que nos debrucemos nos desafios cósmicos de transformar os nossos valores coletivos e a maneira como administramos os recursos gerados pelas parcerias. O planeta regente deste signo, Plutão, encontra-se no signo de sagitário na casa II – é imprescindível que façamos uma revisão de onde estamos fixados no nosso olhar, quais são os paradigmas que orientam as nossas escolhas, nossas crenças a respeito da vida e das pessoas, o que valorizamos (ou não).
Cada vez mais, precisamos da consciência de que somos todos membros de uma grande família planetária, onde não existem nem atos, nem sentimentos tampouco idéias isoladas ou inócuas e, sim, uma profunda e ampla interdependência e sinergia entre todos os seres vivos, incluindo os humanos.
Para quem não conhece a linguagem astrológica, sintetizo que as casas do mapa representam os cenários, as áreas das experiências que se apresentam; os planetas representam as diferentes dimensões destas experiências e os signos simbolizam a sua forma de manifestação.
Para um estudo mais pormenorizado e individual, sugere-se que a pessoa compare o mapa da estação (que apresenta as tendências do coletivo no momento) com o seu próprio mapa astrológico de nascimento. Assim, é possível particulizar de forma mais adequada o que se apresenta de maneira generalizada.
O tom do ano
No dia 20 de março, o mapa do Ano Cósmico nos apresentava o Sol e a Lua em Áries, logo, lua nova, localizados nas casas V e VI e o ascendente em Escorpião. Pelo fato de ser lua nova, temos o início de um novo ciclo também no que diz respeito ao nosso comportamento coletivo (lua), com a potencialidade de assumirmos de forma mais assertiva (áries) aquilo que estamos sendo chamados a responder.
Áries é o signo que representa energia, impulso, iniciativa, liderança, assertividade. E aqui surge a questão: como estamos lidando com este potencial em nosso cotidiano ? em que medida somos responsáveis pelas nossas escolhas ? em que medida delegamos a outrem esta responsabilidade ? Conseguimos disciplinar a nossa impaciência e imediatismo ou somos vítimas de nossa própria ansiedade e intolerância ? respondemos ou reagimos ?
Chama atenção, igualmente, o aspecto de saturno em leão (casa X) e a conjunção marte/netuno em aquário (casa IV). Este é um desafio de romper com modelos arcaicos e obsoletos que se tornaram inadequados e que nos impedem de exercitar a nossa criatividade de maneira mais autêntica e nutridora. Tudo aquilo que fica escondido debaixo das nossas profundezas psíquicas e irracionais e que boicotam a nossa auto-estima, minam a nossa autoconfiança, neutralizam a nossa capacidade de agir e responder de forma adequada aos desafios. Talvez estes modelos sejam padrões familiares que nos remetam a conflitos com autoridade, principalmente aqueles que envolvem figuras masculinas, ou ainda, a situações muito antigas onde experimentamos abandono, falta de apoio e de estímulo, traições, negligência, descaso. Muitos podem sentir esta crise a nível profissional, doméstico-familiar ou ambos, como se fosse impossível conciliar os papéis de ordem pública com os de ordem privada.
Outros, ainda, podem experimentar esta pressão como se o prazer, a criatividade e a alegria não fossem viáveis em situações profissionais, onde são premidos pelos prazos, limites, restrições, comportamentos cristalizados de colegas e, principalmente superiores, que não estão abertos às mudanças e às novas idéias e sentem-se ameaçados quando são questionados em suas decisões, por exemplo.
Além do mais, o dia 20 caiu numa terça-feira (dia associado à marte, regente do signo de áries) e a hora planetária do equinócio (21:08) também é regida por ele. Ou seja, este ano sugere a premência de se tomar decisões; contudo, precisamos ficar atentos com a impulsividade, a impaciência, o imediatismo e a imprudência (típicos de uma energia ariana menos consciente).
Como o ascendente do ano é escorpião, podemos esperar momentos contundentes de transformações e/ou crises coletivas, em especial nos meses de abril / maio, agosto / setembro e outubro / novembro. Escorpião é um signo ligado à necessidade de regeneração, onde, primeiro, nos conectamos com conteúdos emocionais obscuros, irracionais, inconscientes, para poder, logo depois, encontrar os meios adequados de canalizar estes fortes nós psíquicos de modo a apaziguá-los. Podemos nos defrontar, muitas vezes, com situações absolutamente fora do nosso controle, como perdas em diferenciados níveis, e isto nos remete, inexoravelmente, à dimensão humana de nossas limitações diante do Mistério que se entrelaça ao cotidiano da existência.
Como pudemos observar, não tem sido um ano fácil diante de tantas circunstâncias extremas que se apresentam a nível pessoal e coletivo. Entretanto, esta é, justamente, a oportunidade de regenerarmos tudo aquilo que não condiz mais com nosso atual estágio evolutivo. O desafio que se impõe é ter a coragem e a ousadia de mudar.
O tom da primavera
O mapa do equinócio apresenta o ascendente em libra, com o sol em libra na casa XII e a lua em aquário na casa V (em conjunção com netuno). Estes próximos três meses são orientados pela necessidade de procurarmos identificar nossas motivações inconscientes (casa XII) que nos levam a buscar parcerias (libra) com maior ou menor adequação. Há uma tendência maior de busca de harmonização e justiça e o grande desafio será a escolha consciente por algo que ultrapasse o bem estar individual.
Libra é um signo relacionado a casamento, parcerias, associações e contratos. Além do sol e do ascendente, também temos o planeta mercúrio presente neste signo neste momento. Ou seja, é provável que muitos se sintam inspirados a iniciar (ou retomar) atividades artísticas ou de auto-expressão criativa.
A conjunção lua/netuno na casa V reforça a necessidade de expressão da criatividade ou talvez de se reorientar a maneira com a qual estamos lidando com nossos filhos, alunos, relacionamentos afetivos ou a nossa própria criança interior. Não poderemos continuar negando as dificuldades que se apresentam nestes cenários; por outro lado, é justamente na crise que as oportunidades são mais intensas – sintonizando com o aspecto positivo de netuno, poderemos ser capazes de transcender nossas dificuldades de incluir o que é estranho, diferente, diverso do que imaginamos ser o mais adequado e /ou o melhor. Muitas vezes, é difícil para os pais aceitarem a alteridade dos filhos, seres que têm vontade e pensamentos próprios e, às vezes, radicalmente opostos aos deles. Outras vezes, esta dificuldade se expressa na relação professor / aluno ou, ainda, entre dois namorados. È fácil gostar de quem é parecido; é desafiador conviver com a diversidade.
A reflexão que se apresenta aqui poderia ser: em que medida a expressão de meu amor se condiciona àquilo que reflete o que sou ? Consigo enxergar o outro como ele é e, mesmo assim, continuo a gostar dele ? Sou capaz de aceitar as minhas próprias limitações que projeto nas pessoas com as quais me relaciono afetivamente ? Caso não consiga, o que posso fazer para superar esta dificuldade ?
Libra também está associada à figura do conselheiro, do mediador. Muitas vezes, precisamos recorrer a uma terceira pessoa em busca de ajuda, como um terapeuta, por exemplo, para que ele nos acompanhe neste processo de trazer de volta para nós aquilo que projetamos nos outros, buscando a superação destas dificuldades que se apresentam num relacionamento afetivo.
Identificando os subtons
Podemos sentir que, ao longo destes três próximos meses (meados de setembro, outubro, novembro e meados de dezembro, até o próximo solstício de verão) teremos um período de muita tensão (até 15 de outubro), seguido por um período de abrandamento destes conflitos (até 15 de novembro) e por outro de potencialidade total de renovação e redirecionamento. Vejamos mais de perto estas questões.
Todo o cuidado é pouco: o silêncio é ouro
A forte oposição entre marte em gêmeos na casa IX e Plutão em sagitário na casa III no mapa do equinócio reforça que este pode ser um período tenso e conflituoso no campo das idéias, comunicações, ideologias políticas e religiosas. Pode ser um período de fortes acusações, dificuldades no envio de correspondência, problemas com papéis e em todos os tipos de atividades ligadas ao ensino e aos transportes.
Há um certo tom de intolerância e fundamentalismo, o que pode dificultar sobremaneira a busca de consenso, reforçando posições refratárias, causando o afastamento de pessoas. Se prevalecer o individualismo, onde cada qual defende apenas a sua parte, as suas convicções, as suas crenças, a sua visão de mundo (marte na casa IX), perde-se a noção de conjunto, de coletividade, de equilíbrio e bem-estar social (libra). A saída está, justamente, na presença de mercúrio em libra na casa I, onde a capacidade de ouvir (mercúrio) o outro (libra) se apresenta como o primeiro passo para aceitá-lo como ele é (e não forçá-lo a ser como gostaríamos que ele fosse). Como diz o adágio popular, “se a palavra é prata, o silêncio é ouro”. O desafio aqui vai ser falar menos e escutar mais.
Talvez a reflexão que possamos fazer seja esta: em que medida eu realmente ouço (e acolho) o que me dizem, o que escuto ? Em que medida me omito e não me posiciono de forma adequada, expressando o que penso e o que sinto ? Em que medida imponho minhas idéias e minhas visões, inibindo a expressão alheia ? Consigo realmente dialogar ou simplesmente realizo monólogos ?
O desapego como desafio
Em meados de outubro / novembro, também o sol, na sua passagem anual e aparente pelos signos, chega em escorpião, potencializando o ascendente do mapa do ano. Isto vai ativar sobremaneira as casas II e III do mapa do equinócio, onde se localizam este signo (na cúspide) e o planeta plutão (regente do signo), respectivamente.
È possível que o idealismo ou o discernimento sejam o estímulo que promova o desapego e abertura, gerando uma maior harmonia nos relacionamentos. A capacidade de renovação se intensifica, o que cria novas potencialidades e apresenta alternativas criativas ao que parecia estagnado. A própria luminosidade natural dos dias (à medida que transcorre o equinócio, as noites vão ficando mais curtas e os dias mais longos) também se torna um estimulante aos corpos sutis. No entanto, não há garantias – podemos realmente canalizar de forma adequada estes estímulos ou somente provocarmos uma profunda agitação dispersiva a nível interno e externo.
Novos ciclos, novos tempos
Simultaneamente ao mapa do equinócio, vivemos, coletivamente, o início de dois novos ciclos: a entrada de saturno no signo de virgem (em setembro) e a de júpiter no signo de capricórnio (em dezembro).
Júpiter é um planeta social, ligado às leis, à visão de mundo, paradigmas e sistemas de crenças. Saturno, também um planeta coletivo e social, se refere à aplicação destas leis, representando a responsabilidade, o ritmo, a disciplina, o dever. A passagem de Júpiter por um determinado signo é de um ano, a de Saturno, dois anos e meio. Tanto Virgem quanto Capricórnio são signos do elemento terra, ligado à racionalidade, praticidade, cinco sentidos, entre outras coisas. Ou seja, é chegado o momento de respondermos de forma adequada, enquanto indivíduos e coletividade, à demanda que as questões ambientais estão nos apresentando desde a Eco 92, por exemplo. Esta ênfase nos recursos naturais, na saúde e educação, na busca da cura para as doenças, vai além deste mapa da estação – viveremos estes ciclos ao longo de 2008 e 2009.
Mas é importante reforçar que é agora que eles terão início, ou seja, que o universo está nos convidando a tomarmos consciência e, a partir disto, mudarmos nossa atitude em relação aos maus hábitos de consumo (em todos os sentidos) que mantemos cotidianamente e, na maioria das vezes, sem darmos a devida atenção a eles, os quais levam ao desperdício (júpiter) em detrimento da saúde, dos recursos do nosso meio ambiente (virgem). Caso contrário, enfrentaremos grandes desafios de escassez de recursos (capricórnio) , desequilibrando ainda mais a economia mundial (saturno).
A partir de 22 de dezembro, entraremos no último sub-ciclo do ano, com o solstício de verão. Até lá, a ênfase maior estará na busca de equilíbrio entre a energia masculina e feminina, nas associações e parcerias (libra), na necessidade de mergulhar profundamente nas nossas motivações mais inconscientes, reconhecendo nosso potencial de sombra e luz (escorpião) e na orientação de nossa energia de uma maneira focalizada e assertiva (sagitário), onde o indivíduo e a coletividade reconheçam sua mútua alteridade e interdependência.
Em linhas gerais, este é o cenário que nos espera, enquanto coletividade. Mas a maneira como cada um vai significar as experiências vivenciadas neste momento da roda do ano não temos como delinear, pois esta dimensão faz parte do mistério da alma de cada ser.
domingo, 16 de setembro de 2007
O que é a Astrologia Clássica? ( última parte)
Tradução de Daniela Scheifler - Baile no Céu
Em tal modo, Ptolomeo aparece a nós, novíssimos astrólogos. Ele declarou que a previsão se compõe de matemática e de fisica, as quais são a parte demonstrativa da arte e da filosofia, que é a parte conclusiva. No prosseguimento de astrologia de língua grega depois de Ptolomeo continuarão a conviver elementos antigos e novos. No século IV, Paulo de Alexandria segue Ptolomeo de Galeno a ponto de recompor uma segunda vez a sua introdução, mas não pôde esquecer os "sábios Egípcios". Efestione tebano parafraseia o Quadripartitum e acrescenta a cada capítolo metódos, opiniões e aforismos dos archaioi. No século V Rhetorio, que mostra reconhecer a pureza do método ptolomaico de previsão, na sua Instrução para a Interpretação dos Nascimentos (Cat.Cod.Astr.Graec. VIII, 1,243-248) para cada juízo diversas afirmações.
Nos seja concedido ultrapassar as diversas fases e épocas nas quais foi professada a técnica da previsão astronômica. Entre as quais não há homogeneidade, o desenvolvimento histórico é em qualquer espécie contrário ao desenvolvimento homogêneo do pensamento humano. Todavia, na antiga cultura grega a astrologia foi considerada uma «ciência matemática que revela as concatenações do destino» (Salustio, de diis et mundo 9,4) e como tal permanecerá no curso dos longos séculos. Arte e ciência matemática, não uma empírica opinião incerta da falsidade do contrário. "Quando milhões de homens por milhares de anos dividem uma mesma opinião, é de se presumir que esta opinião assim universalmente aceita se apóie em fatos positivos, em uma longa teoria de observação justificada pelo evento": deste modo o conde de Altavilla quer comprovar à jovem Alicia a crença na atração, deste modo se procura às vezes defender e salvar a crença nas estrelas.
Todavia não de justificativas similares necessita uma ciência. Entre os séculos XVI e XVII, ao lado de uma astrologia natural que explica ainda legitimamente, depois da "revolução coperniana", figuras e movimentos aparentes dos astros alcançando até o prognóstico do tempo, uma outra astrologia padece descrédito e em seus professores e em seus ouvintes: «Não sabendo com qual títolo expressivo de injúria poderiam mais violentamente erradicá-la, a chamam opiniática» ainda que «toda e qualquer arte científica sendo ordenada a fim de conhecer qualquer objeto proposto por meio e mediação das causas deles, como disse o Filosofo, entender os erros para conhecer as causas (Scire est rem per causam cognoscere etc.), é certo que tal informação outra coisa não é que um silogismo, e um argumento no qual através das proposições antecedentes, premissas manifestas e conhecidas, se deduz a conclusão e o juízo que era incógnito» (Titi, Tocco di paragone...19-20).
Antes que Newton divulgasse a lei da gravitação universal, o pensamento científico conheceu e aceitou uma outra e diversa lei universal da natureza. Esta lei universal da natureza era astrológica (L. Thorndike, The True Place of Astrology in the History of Science, Isis 1954 p.273). Esta lei se baseia sobre a tese de que a natureza inteira é governada pelo movimento dos céus e pelos corpos celestes e que o homem, enquanto animal naturalmente gerado e habitante do mundo natural, é tomado por natureza dentro dessa lei. Desta forma a astrologia é uma ciência tão verdadeira e natural quanto a filosofia: «É natural uma vez que investiga os efeitos naturais, os quais se produzem no corpo natural daqueles que pertencem, que são naturais das estrelas... É ciência demonstrativa, se pensa das posições e movimentos dos corpos celestes, e das quantidades e suas paixões, como os eclipses, e o nascer do Sol; mas se trata dos efeitos, que se causam das estrelas e das nossas coisas inferiores, as quais sendo mutáveis podem em diversos modos impedir as operações e influências do Céu, ela é ciência conjetural, como com razão a chama S. Tomaso..." (Titi, op.cit. 1-3). Não pretendemos falar dos séculos a nós mais próximos: desde quando se vem legitimando uma mutável dimensão da cultura subalterna, ali foram colocados os desordenados resíduos de uma astrologia em fuga. Mas tudo isso é posterior aos nossos interesses. Até todo o Renascimento a astrologia fez parte da cultura científica e participa das vicissitudes do pensamento humano. Um certo tempo antes do fechamento da Escola de Atenas, o egípcio Rhetorio funda, sobre a autoridade dos archaioi e do método de Ptolomeo, uma atitude sincretista no proceder que parece antecipar o douto enciclopedismo bizantino.
Se Rhetorio representa a última grande figura da astrologia greca, o nascer da astrologia árabe remeterá idealmente a uma similar atenção à tradição dos archaioi e amplificarà o exagero graças ao conhecimento das culturas dos povos subjugados ao islamismo. A moderna historiografia precedente às grandes guerras acredita que o advento do Aristotelismo na cultura islâmica, em torno do séculoVIII-IX , representou um freio à especulação astrológica (c.a. Nallino, Recolha de escritos publicados e inéditos, Roma 1944, T.5, p.20). Na realidade é bem verdade o contrário, assim como os Gregos e os Latinos, também na cultura árabe nunca existiu uma separação entre astronomia e astrologia, mas ambas constituiam uma só ciência, al-nujûm. Albumasar justifica o caráter científico da astrologia sobre a base da filosofia natural de Aristóteles e declara a astrologia ciência completa e perfeita no sentido aristotélico. As maiores autoridades do Introductorium in Astronomiam di Albumasar são Aristóteles, Ptolomeo e Hermes (cfr. R.J. Lemay Abû Ma'shar and Latin Aristotelianism..., Beirut 1962, 41s). Foram essas as figuras emblemáticas da ciência astrológica durante toda a Idade Média.
Até todo o século XVI o astrólogo é sobretudo um filósofo que interpreta os movimentos do céu e as leis da natureza, ele é astrônomo e físico, não raramente médico, e se considera discípulo de Ptolomeo di Galeno, di Aristótoles. O seu pensamento é o pensamento clássico. Aristotélico foi de outra parte considerado Ptolomeo, pelos astrológos árabes e por aqueles medievais e renascimentais, aristotélicos os fundamentos de Albumasar e di al Kindi, aristotélica a formação física-filosófica dos astrólogos da Idade Média e do Renascimento. Mas quanto às considerações racionais, começará a vir atribuído, contrariamente à opinião de Aristóteles, uma espécie de certeza maior daquela oferta pela observação sensível, aquilo que era a rainha das ciências veio destronada e dissolvida. Estamos na metade do século XVI, a física aristotélica entra em uma crise lenta e infrene que preanuncia o illuminismo, embora assistimos a uma das mais significativas interpretações da doutrina astrológica de Ptolomeo fundada sobre uma leitura aristotélica do Quadripartitum na ópera de Placido Titi. Quando Luís XVIII fugia diante da águia imperial, o príncipe de Condé entende de dever informar se a Sua Majestade teria, apesar de tudo, completado o lavatório dos pés no humilde albergue do vilarejo, onde os tempos infelizes lhe haviam lançado longe o dia do aniversário da cerimônia.
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
Contos astrais: O carneiro
Amor à primeira vista. Outra vez. Como sempre, aliás. Acordara cedo, apesar da ressaca zunindo no fundo da cabeça. Era preciso encontrá-la de novo. Mais que preciso: urgente. Pisou mais fundo no acelerador, incentivado pela velha balada do Rei. Lamentou que ali não houvesse curvas nem estradas de Santos. Somente a suave planura da Rota do Sol, montes se desmanchando em campos verdes. Uma paz incoerente com um coração pegando fogo, louco de amor, louco de amor. Deixou-se levar mais uma vez pelas recordações da noite anterior. A festa, o calor, o trago. Até ela surgir no balcão. E o primeiro olhar. E pronto. Bastou. As palavras lhe saíram da boca num impulso.
“Lindo sinal, esse teu.”
“Não é sinal. É cicatriz. Queda de moto.”
“Alguém te derrubou?”
“Não. Eu mesma caí. Sete pontos na testa. Pelo menos não ficou saliente a marca.”
“Também já me acidentei feio. U.T.I. e tudo. Tive que prometer aos meus velhos que nunca mais andaria de moto. Mas adoro. Sinto falta do vento na cara.”
“Posso te dar uma carona qualquer dia. Mas só se eu pilotar.”
Ele escutara direito? Uau! Então ela também estava a fim! Agora, enquanto trocava o antigo disco do Rei pelo solo italiano de Renato Russo, leu na placa da estrada que São Francisco de Paula estava a quarenta quilômetros. Era hora de ligar para ela. Avisar que estava indo. Ficaria surpresa? Afinal, ele só dissera que telefonaria. Não. Depois dos beijos doidos, na fumaça da pista iluminada, ele já sabia ter encontrado a mulher da sua vida. Por isso prometera vê-la de qualquer jeito neste domingo mesmo. Ela riu da fissura dele. Deus, que sorriso lindo! Disse que morava numa chácara transformada em pousada, com os pais, a quem ajudava. Um lugar bonito, os turistas adoravam. Ora, ora, se ela não quisesse que fosse procurada, não teria falado nada. Renato Russo cantava Strani Amori. Ele conhecia vagamente o trecho onde devia ficar a pousada. Faltou saber o nome do lugar. Mas guardara o número do celular dela. Equilíbrio Distante, o disco que tocava. Agora ela era o equilíbrio dele. Vital. Visceral. Precisava dela. Para sempre.
Outras placas indicaram a proximidade da cidade. Ele já tinha repetido Strani Amori cinco vezes, sem entender o idioma, mas entendendo de um desejo cego que o guiara até ali. Pegou o celular no bolso da calça. E deu um soco no volante. Maldição! Droga! Cacete! O celular tinha se descarregado. Tentou ligá-lo. Nada. O número dela estava gravado ali. Por que não checara isso antes de sair? Onde haveria um carregador compatível? Sentiu uma fúria colossal, socos no teto do carro. Calma, rapaz, calma. Pense. Tem que haver um jeito. E se perguntasse por ela em alguma dessas pousadas perto da estrada, perto de onde pensava ficar a dela? Esse pessoal todo do ramo deve se conhecer. Pegou o primeiro acesso de chão batido que viu, à direita, de olho num casarão no alto de um coxilha. Mais adiante, uma cancela barrava o caminho. Ele desceu, abriu-a, seguiu com o carro. E percebeu ter entrado num pasto, porque a estradinha findava num capim macio. Droga! Desceu para respirar um pouco, olhar ao redor.
Nisso viu se aproximar um carneiro exótico, desses europeus, chifres retorcidos, testa pronunciada, altivo. O animal embalou em sua direção. Opa! Melhor entrar no carro. Esses bichos podem dar umas boas cabeçadas de defesa. Até riu um pouco, esperando o carneiro desistir da empreitada. Daí sentiu o carro sacolejar. Som de vidro quebrado. Cabeça dura de carneiro no farol esquerdo. Não é possível! Ninguém merece! Esse farol custa uma nota! Com esse azar todo, a polícia bem pode pará-lo na estrada, multa, outras incomodações... O corpo tremendo de ira e frustração, a cabeça voltando a doer da ressaca, ele teve ganas de perseguir de carro o maldito carneiro pelo pasto. Mas preferiu ir à cidade. Umas voltas no Lago São Bernardo, um almoço bacana, uma taça de vinho, isso o acalmaria antes de retornar. Logo estacionou o possante vermelho ao lado da antiga gruta dos índios, à beira do lago. Sentou na grama e ficou atirando pedrinhas na água escura. Pensou nela, para afastar a raiva. Quando ouviu seu nome, em tom de dúvida. “Ariano?” Virou-se. Ela. Surpresa, susto na cara. E um brilho no olhar, entre as sobrancelhas juntas, que o deixaram louco de paixão. Correu para ela com tanto ímpeto que caíram ambos na grama. Ele, como sempre, exagerado feito Cazuza, querendo sorver de um único gole todo amor que houver nessa vida.
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
Alfabeto astrológico
Além de estudar a natureza, devemos observar como se distribuem as energias no horóscopo, o que é feito dando “pontos”, segundo incidem nos ritmos ou elementos.
As energias da Personalidade
A personalidade é a esfera de nosso eu pessoal, nossas energias mais básicas, o ambiente mais próximo e fundamental. É a nossa infra-estrutura em geral: sem ela nada podemos fazer, e o mais sábio que fazemos é mantê-la em ordem. É dada pelos chamados Quatro Elementos, e mais diretamente com o Sistema de Casas. Relaciona-se, esotericamente, à 1ª Iniciação ou o despertar espiritual, e também com a forma quadrangular.
A Lua
A Lua simboliza a esfera das formas, os distintos níveis de formas representados pelos Quatro Elementos. Rege simbolicamente o Sistema de Casas porque polariza com o Sol. Como sugere seu símbolo (o da Lua Minguante), representa a divisão por quatro (quadrantes), existindo por isto quatro deuses lunares para simbolizar suas quatro fases.
A Lua representa a imaginação, assimilação das coisas, sensibilidade e auto-imagem, o psiquismo e a receptividade; a mãe; o povo.
As energias do Espírito
O espírito está simbolizado pelo Sol, que se manifesta através dos Ritmos Cardinal, Fixo e Mutável, assim como pelos Signos. Este nível está relacionado ao triângulo e, esotericamente, à 2ª Iniciação, a do Discipulado, ou a busca pelo contato com o Eu Interior.
O Sol
É a esfera central do Sistema Solar. A origem e o final. Isto está indicado no seu símbolo, um Centro (ponto) com sua Circunferência, Alfa e Ômega. É o espaço total, seja em sua origem central como exterior. É o todo e o resumo do Sistema que dele depende.
Significa nosso Eu Interior sublimado, o coroamento de nossa evolução, nossas estruturas de consciência. É a nossa vitalidade, e a nossa necessidade de experiências, poder e modo de expressão, criatividade, dignidade e autoridade.
As energias da Alma
A Alma ou Psiquê é aquela esfera intermediária entre a Personalidade e o Espírito. Representa uma “energia” elaborada pelas virtudes, e na realidade expressa aquilo que de mais propriamente humano existe. Nela se encontra o molde do homem, ou o Arquétipo divino-humano. Relaciona-se à 3ª Iniciação (1ª Iniciação Solar) e à forma pentagonal.
Mercúrio
É a esfera que simboliza o nível da Alma no Microcosmo. Mercúrio ou Hermes é o elo entre os mundos, o Mensageiro dos Deuses. Processa ou alquimiza as energias planetárias e relaciona hierarquicamente os opostos. Tudo isto está representado no seu símbolo, onde aparece todo o conjunto planetário reunido: Sol, Lua e cruz alusiva ao grupo planetário. Mercúrio é o Grande Alquimista, aquele que transforma os metais, ou seja: os elementos – é a mente (as palavras “mente” e “metal” são aparentadas e elemento contém o termo “mente”). É o intelecto, a comunicação, a razão, a dialética. É o fruto da planta. Sua polaridade é neutra.”
Rejane Woltz Barbisan
Astróloga
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
O que é a Astrologia Clássica? ( parte II)
Tradução de Daniela Scheifler - Baile no Céu
Os homens antigos do inicio – afirma Aristóteles – compreenderam essas coisas na forma do mito, e nesta forma as transmitiram aos que vieram depois, dizendo que esses corpos celestes são divindades, e que a divindade circunda toda a natureza. O resto foi agregado depois, sempre na forma de mito, para persuadir os demais, e foi empregado a fim de impor obediência à lei e por razões de ultilidade. Dizem de fato que aqueles seres divinos são similares aos homens e aos animais, e outras coisas acrescentam, que derivam deles ou são a eles muito similares. Se, todavia, separásssemos essa mistura e compreendêssemos somente o conteúdo originário daquelas crenças, ou seja, considerar divindade as substâncias primeiras, devemos então convir que eles falavam em modo divino.(Metaphysica 1074b). Quem são esses homens antiquíssimos palaitatoi anthrôpoi?. São como lemos em Homero, os habitantes da cidade de Troia (Il. 11,166) ou os contemporâneos de Servio Tullio (Plutarco De fortuna Rom. 323e)? A nós parece aqueles palaitoi anthrôpoi (antigos homens) de que falou Platão que inventaram os nomes das coisas (Crat. 441b), palaioi (antigos), exatamente porque pertencem ao tempo do mito e não podem ser colocados em nenhuma dimensão temporal.
Se quiséssemos ao contrário nos perguntar quando aparece pela primeira vez no Ocidente um sistema completo de previsão fundada sobre fenômenos astronômicos, podemos dizer que Berosso, Epigene e Critodemo são os primeiros astrológos a nós conhecidos. Se considera hoje que Critodemo haja precedido o legendário Petosiride, cuja vida foi transportada pelos filólogos do sec VII ao I secolo a.C., enquanto ao contrário se estima que Critodemo tenha vivido no sec. III a.C.; em tal modo eles mesmos Antioco d'Atene, Prassidico, Timeo, Sarapione Alessandrino, Teucro seriam contemporâneos do sacerdote egípcio.
Mas aquilo que aqui nos importa sublinhar é que os astrólogos da idade helenística são normalmente claros, entre os seus predecessores, os archaioi e os palaioi. Os primeiros foram aqueles que iniciaram a manipular a astrologia e os segundos aqueles que a inventaram e a nominaram pela primeira vez. Dos primeiros se conhece o nome e a vida terrena, mas os segundos são envoltos no mito, são uma dimensão atemporal, como o Hermes das mil direções, « a quem nossos antepassados dedicaram as invenções da sua cultura » (Giamblico De mysteriis 1,1; cfr. 8,4); são aqueles que primeiro estabeleceram os nomes da arte, como por exemplo o nome de agathodaimôn (bom gênio) ao décimo primeiro lugar (V. Valens p. 135.2 Kroll), ou seja, os nomes e os atributos que remontam a Hermes Trimegisto (Rhetorio, Cat.Cod.Astr.Graec. VIII,IV 126-174). Temos um exemplo em Efestione de Tebas: Panchario não está entre os archaioi, nem entre os palaioi, uma vez que é seu contemporâneo, mas Porfirio (I, 157.1 Pingree), Antigono di Nicea (I, 162-163), Doroteo (I, 263.10-11), os sábios egípcios que o precederam (I, 258.19) estão entre os archaioi. Palaioi ao contrário, foram os primeiros a observar as figuras das estrelas (Ptolomeo Quadr. 1,2 Boll-Boer 8.9), a natureza dos planetas (ibid. 1,4 B.B. 17.8; 1,5 B.B. 19.24) e das estrelas inerrantes (ibid. 1,10 B.B. 30.7), palaios é o manuscrito que Ptolomeo mantém entre as suas mãos (ibid. 1,21 B.B. 49.14).
Para os astrólogos helenísticos posteriores ao século II os archaioi são então os seus predecessores históricos. Estes, por sua vez, fundam a sua doutrina lembrando aos palaioi (Haephestio I,120.25), entre os quais uma figura aparece primeiro, aquela de Petosiride, palaios por antonomásia (cfr. scholia in Cl. Pto. quadr. Wolf p.111). Estamos portanto de frente a três diversas épocas da Astrologia: os antigos, os veteranos, os novos. Entre os novos uma figura se destaca, não só pela perfeição da sua doutrina, ou pelo seu preciso conhecimento dos movimentos, mas sobretudo por uma nova concepção e um novo método de arte da previsão astronômica: Claudio Ptolomeo, no segundo capitolo do terceiro livro do Quadripartitum renuncia ao modo antigo (archaios) da previsão, que consiste na «qualidade conjunta de todos ou da maior parte dos astros e se alguém quisesse completá-lo com cuidado se revelaria multiforme e quase infinito» (B.B. 109.5-7).
Esta forma de predição é aquela dos antigos Egípcios os quais de fato «seguiam um método cheio de configurações particolares, sujeitas a parecerem infinitas, difíceis de entender e compreender» (In Cl. Pto. enarrator ignoti nomiis Wolf p.89).
Estes diversos modos do proceder (agôgai) dos antigos, difíceis de se desvincular, enigmáticos, como declarava V. Valente (p. 242.20 Kroll), constituem para os novos astrólogos a tradição.
Diante disso, muitos procuram explicá-la, como Vettio Valente, deixando, todavia, a arte no rastro de uma secreta sabedoria. Não abandonar o proceder da tradição significa conservar a sua riqueza; significa ainda falar a sua lingua, que não é aquela dos filósofos, dos naturalistas, dos homens de ciência. Diversa foi a atitude de Ptolomeo; ele não exprime uma recusa clara e global à tradição, ao contrário: os termos técnicos que ele usa são os mesmos dos antigos e o objetivo de Porfirio na sua introdução é de explicá-los aos contemporâneos (isag. Wolf 181). Mas ele é filósofo e cientista e prefere seguir uma via natural, interpretando «com um método pertinente à filosofia» (quadr. 1,1; Boll-Boer 3.6-7) as configurações e os movimentos dos astros que o conhecimento da astronomia nos oferece, ainda que isso devesse comportar um parcial abandono da tradição. ( continua)
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Uma poesia para Saturno em Virgem
"Trazer à terra, depurar
para que aprendas a distinguir
tantas coisas que é preciso limpar
frutos do que se plantou
cotidiano servir
Ceifai cereais
Ceres das colheitas
destroem-se as obsoletas formas
não mais saciam sedes e vertentes
No infinitamente
se refazem as sementes"
Isabel Mueller - Astróloga, Poetisa - www.isabelmueller.com.br
domingo, 2 de setembro de 2007
O que é a Astrologia Clássica? ( parte I)
Tradução: Daniela Scheifler Baile no Céu
O que se deve entender por Astrologia clássica? convém uma tal denominação em qualquer que seja o período da astrologia? É bastante dificil imaginar uma resposta afirmativa, ao contrário, vêm à mente outras perguntas: Quando e onde podemos situar o nascimento de uma doutrina astrológica a nós documentada? Existiria uma astrologia pré-clássica, um período áureo ou uma decadência? E se, como às vezes se afirma em alguns períodos da história das idéias, a astrologia se propõem a ser ciência, pode a nossa compreensão aceitar o nascimento, o declínio e o desaparecimento de uma ciência? Além disso: como poderemos chamar de ciência uma semiótica das aparências que nos parece o parto de um furioso espírito, mais do que da mente e da razão? Por parte dos antigos, já há tempos se fez justiça reclamando a sentença de Terencio: maus pensamentos, maus espiritos. Mas se quiséssemos ainda prosseguir e voltássemos a nossa atenção aos escritos dos antigos astrólogos, permaneceríamos desconcertados em frente a super abundância e a extrema variedade de procedimentos. Esses procedimentos, que podemos ainda hoje ler em uma vastíssima literatura manuscrita grega, latina e árabe, provêm, presumimos, de um corpus doutrinário egípcio e mesopotâmico, mas os antigos são de uma opinião diversa.
Onde nasceu essa pretensa ciência sideral que teve a intenção de unir a contemplação da suprema beleza dos céus às rigorosas leis físicas sobre aparências visuais, quase negando a dramática dicotomia de Shelley entre poesia e ciencia? É verdade que, se da decadência da astrologia podemos racionalmente discutir, uma vez que nos é próxima e, de qualquer forma, evidente que do seu primeiro manifestar não nos é dado saber. Todavia, permanecemos confusos em frente às cândidas e ingênuas declarações dos antigos sobre os inventores da Astrologia. Quando Santo Agostinho chama Atlas de maior astrólogo (de Civitate Dei 18,39; cfr. Plinio nat. hist. 2,31; 7,203; Vitruvio 6,10,6; Diodoro S. 3,60,2; 4,27,1) retoma a doutrina evemerista1 que transforma em sábios os heróis do mito, mas não só Atlante: Urano, Belo, Toth, Prometeu, Atreo e o Centauro Quiron também divulgaram a Astronomia aos homens. (cfr. Jo. Chr. Heilbronner, Historia Universal de Mateus em um mundo em harmonia com os séculos posteriores Chr.n. XVI, Lipsiae 1742, 54s.). Santo Agostinho ainda nos diz que Atlante era contemporâneo de Moisés, o qual era por sua vez, contemporâneo de Filone, matemático, astronônomo, geómetro, músico e filósofo excelente, e aprendeu com os Assírios a ciência dos Céus (Vida de Moisés 1,23). Mas ainda antes de Moisés foi Abraão quem ensinou matemática e astrononomia aos egípcios, que ainda não a conheciam. (Berosso, in Giuseppe Flavio, Idade Antiga 1,8,2; cfr. Eusebio, praep.ev. 9,16). Foram esses homens que receberam a ciência dos céus através de revelações.
Ao lado de uma tradição que deseja que Astronomia e Astrologia sejam ensinadas por anjos rebeldes (cfr. Libro di Enoch 8,4), os gregos consideravam geralmente que essas fossem reveladas dos deuses aos “reis caros a divindade” (Luciano, De Astrol. 1; cfr. Achille Tazio isag. 1), portanto por presente divino munere caelestum, como disse Manilio (1,26). Revelações das leis naturais que produzem as estações e as mudanças das vegetações, revelação da emanação e influxo sempiterno que do céu se estende naturalmente à toda lei física e moral terrena, seja ela coletiva ou individual.
Que o homem tenha percebido em uma época a nós remota uma símile e impar conexão entre céu e terra e que a essa se tenha em tudo conformado, não podemos duvidar: O imperador chinês, na sua qualidade de filho do céu, diante do céu era responsável pelos erros dos seus ministros. Não diversamente todo soberano, em todas as épocas, em todo o lugar, sempre sentiu a necessidade de apoiar o proprio direito divino à observação meticulosa do rito sagrado. Mas quais os conhecimentos astronômicos revelados? Sem dúvida, primitivos, mas também mais complexos do que se possa imaginar. Se hoje cada um sabe que a terra gira em torno do Sol, essa mesma noção prejudica a total compreensão dos fenômenos aparentes. Se Astronomia e a Astrologia têm um longo formato em tudo indissolúvel, dessa maneira que uma indica a outra e vice-e-versa, do mesmo modo, toda a lei da astronomia dos antigos, dos fora de centro até a oitava esfera, se põe como lei física e natural, marca episteme de uma lei celeste, fundamento do juízo e da previsão enquanto objetivo último do astronômo, o philalêthês, o amante da verdade. (continua)
1) Evemerismo substantivo masculino
Rubrica: filosofia.
interpretação filosófica, defendida por Evêmero de Messina (sIV e III a.C.), segundo a qual os deuses são personagens humanos, extraídos de relatos tradicionais e acontecimentos históricos, divinizados pelos próprios homens. Houaiss - Dicionário eletrônico da Lingua Portuguesa
terça-feira, 28 de agosto de 2007
Aspectos e ângulos
Os aspectos são estudados segundo graus de força, por exemplo, o trígono (120º) e a quadratura (90º).
Além disso, se acrescenta a questão da tolerância espacial a ser observada na influência destes aspectos, podendo se atribuir 10º para os aspectos mais importantes: trígono, quadratura, quintil, conjunção e oposição; 7º para os de segunda importância: sextil, semi-quadratura, decil; 4º para aos de terceiro grau de importância: semi-sextil, sesqui-quadratura, biquintil; e apenas 1º para os demais aspectos. Como a tolerância é centrada no planeta, considera-se apenas a metade desta margem para cada lado da esfera avaliada.
Devemos ainda considerar que os aspectos se encontram divididos em quatro grupos, relacionados com: o físico ou material, psicofísico ou neutro, astral ou anímico e espiritual.
A espiritualidade está simbolizada pelo triângulo – que são os aspectos benéficos e fluentes – trígono (120º) permite a fluência das energias; sextil (60º) harmonizante; semi-sextil (30º) atuação física: e quincúncio (150º) atuação física.
O material ou físico está simbolizado pelo quadrado – processo de aprendizado e crescimento pela dor – quadratura (90º) gerador de tensão emocional; semi-quadratura (45º) gerador de atritos mentais; e sesqui-quadratura (135º) atua sobre a saúde.
O aspecto astral ou anímico está relacionado ao pentágono, correspondendo à esfera da alma e é intermediário entre os dois anteriores – quintil (72º) efeito de natureza mental; decil (36º) efeito no plano físico; e biquintil (144º) efeito no plano das emoções.
Os psicofísicos ou neutros atuam no sentido de agrupar ou separar forças, e sua natureza depende dos planetas envolvidos – conjunção (0º) relaciona-se ao Sol; e oposição (180º) relaciona-se à Lua.
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Contos astrais: Aquário
Caros internautas: a comunidade Eu Fui Amigo do Ganimedes pretende homenagear essa grande figura humana que marcou profundamente nossas vidas. Neste ano se completa uma década do acidente de ultraleve que levou embora nosso amigo, com apenas 42 anos. Sintam-se à vontade para deixar aqui seus depoimentos, com toda sinceridade e sem frescura, do jeito que ele gostava. Onde ele estiver, com certeza estará sorrindo pra gente, voando com duas asas enormes...
Fred: Dez anos, já? O tempo voa. Eu o conheci no primário, e ele entrou na turma no meio do ano, depois de ter sido expulso do colégio dos padres. Era tempo da ditadura militar, e não foram poucas vezes em que o Gani era chamado na diretoria ou levava suspensão. Tudo porque não aceitava ordens sem discutir. Voltamos a nos encontrar anos depois, nos corredores da faculdade de sociologia. Lógico que ele não terminou o curso, porque sempre esteve mais interessado em organizar passeatas contra isso e aquilo. Acho que ele teria um belo futuro na política. Saudades de você, cara. Foi um privilégio ter sido seu amigo.
Hanna: Fico pensando agora se ele tivesse concordado em ter um filho comigo. Vivemos juntos por quase três anos. Mas o Ganimedes tinha horror à idéia de ser pai. Dizia que não queria ser obrigado a cuidar de ninguém por causa de convenções derivadas da parte animal da natureza humana. Daí passava a defender uns bizarros sistemas de controle de natalidade e a ação do governo no sentido de impor contraceptivos à população miserável. No fundo eu achava que ele tinha coisas mal resolvidas com a família, principalmente o pai, de quem nunca falava. Era difícil fazer com que ele se abrisse emocionalmente. Às vezes assumia uma frieza glacial e foi por isso que nosso “casamento” acabou. Muita gente achou que foi por causa do lance com o outro cara, mas não foi. Ele tinha um lado selvagem, de tão livre, e eu sabia que nunca seria meu. Felizmente a gente descobriu que funcionava melhor sendo amigos. E assim fomos até aquele dia trágico. Mas agora sou eu que não quero tocar nessas emoções. Ele sabe que meu amor permanece igual.
Laila: Ele tinha a mania de a cada vez que me via inventar um nome novo pra mim. Já fui Astrud, Sonja, Gertrudes, Zora, Gudrum, Hermenegilda, Saionara e até Maria-do-Perpétuo-Socorro, dito assim, sem pausa. Argumentava que o nome era a máscara da pessoa e que me queria sempre dona de muitas caras, muitas amigas numa mesma mulher. Uma vez ele me ligou às três da manhã, falou somente “escuta isso” e encostou o telefone na caixa de som. Rolava uma música do Salif Keita. Fiquei esperando a canção terminar, preocupada, achando que ele estivesse maluco, drogado, sei lá. Aí ele disse algo como “Talita, a África ainda vai salvar a humanidade”, e desligou. Esse era o Ganimedes. Ontem mesmo ri sozinha, lembrando do concurso de palavrões que ele organizou uma vez numa formatura. Alguém aí estava lá? Quem lembra do palavrão vencedor? Talvez a gente deva fazer uma festa no aniversário de partida dele, pra repartir histórias. Vou aparecer com o nome de Zúbia.
Roberto: O cara foi embora cedo pra não ver a caretice que tomou conta do mundo. Ele não ia suportar ver os antigos colegas de militância metidos em falcatruas. Meu brother, essa gentalha não te merecia. Você era de outro planeta!
Elisa Luz: Hanna, querida, que bom te encontrar por aqui. Vou te adicionar aos meus contatos. O Gani continua unindo a gente, como sempre fez, não é mesmo? E olha só que coincidência! Você falou do lance com o outro cara, e adivinha quem encontrei ontem? Ele mesmo. Estava num shopping, com mulher e filhos. E pensar que por ele o Gani quase foi linchado naquele bar, depois de se darem um beijo na boca. Eu jurava que nada mais me surpreenderia no Gani, mas confesso que fiquei chocada quando ele desafiou os machões do bar com aquele discurso de que o amor não tem sexo nem cor nem credo, enquanto o outro saía correndo, sem assumir o próprio afeto. Confesso também, amiga, que fiquei mais impressionada com sua atitude de permanecer vivendo com um homem que de repente admitia estar caído de paixão por outro cara. Sabemos que o Gani estava mesmo acima de rótulos. O lance dele era amar, e amar urgentemente, como se soubesse, naquela típica ansiedade, que viveria pouco. Hannusca, tenho o maior orgulho de ter convivido com vocês e espero que a gente retome nossa amizade.
Bocão: Ganimedes, seu bruxo! Não é que o império norte-americano está ruindo exatamente pelos motivos que você apontava há mais de 20 anos, e a gente te chamava de maluco? É regra: ninguém é profeta em seu tempo e em sua terra...
Gigi: Na época de estudante ele não tinha endereço certo, vivia pousando na casa dos amigos. Certa vez minha avó perguntou de que família ele era. E a resposta certeira: “Sou da família Mundo”. De outra vez, os guris foram questionar ele por que, entre tantas gatas na faculdade, ele namorava uma feia, preta e gorda. O Gani falou: “Engraçado, eu ainda não tinha reparado que ela é feita, preta e gorda...” Gente, o Gani era o cara!
Audrey Turner: Friends and friends! Não posso me omitir em falar do Espelho. A gente se tratava assim porque fazia aniversário no mesmo dia e tinha mapas astrais muito parecidos. Foi ele quem me apresentou ao yoga, ao budismo e a Jung, que hoje fazem toda a diferença em minha vida. A gente se conheceu quando estudantes, em Roraima, no antigo Projeto Rondon, no meio de índios e caboclos. O Gani improvisou um teatro de bonecos com gravetos para explicar ao povo a necessidade de proteger as águas e o ambiente. Eu gamei nele no ato. Recentemente, um amigo me trouxe da Europa um disco do Screamin’ Jay Hawkins, que o Gani amava, e eu chorei de saudades ouvindo. Espelho meu, já não existe nesse mundo alguém tão estranho quanto eu, mas você está vivinho em meu coração. Te amo pra sempre. Namastê!
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Os Elementos, a Astrologia e o Som
Os signos de água têm percepção do poder da mente inconsciente mas não tem consciência, ele próprios, do muito daquilo que os motiva realmente. Quando estão sin tonizados, são os signos mais intuitivos e psiquicamente sensíveis. Geralmente sentem aversão por aqueles que são turbulentos ou têm personalidades fortes, tais como as pessoas dos signos de ar e fogo. Sabem que devem se proteger das influências exteriores a fim de garantir, para si mesmos, a paz interior necessária à reflexão profunda e à percepção.
Atributo básico do Som - ALTURA do som - é determinada pela freqüência: uma freqüência alta produz um som agudo, enquanto que o som grave está numa baixa freqüência. É a melodia do som e está relacioado com a parte emocional do homem. É formada por intervalos ou distâncias existentes entre um som e outro. É o espaço em música. Há um importante aspecto psicológico relativo aos intervalos - quanto maior o intervalo, mais forte é a tensão provocada. O uníssono é, portanto, o intervalo de menor tensão, induzindo à quietude e ao sono. Simboliza também a solidão.
Os signos de fogo exemplificam a decisão, a grande fé em si mesmos, o entusiasmo, uma força sem fim e uma honestidade direta. Precisam de grande liberdade para podem se expressar de forma natural, e normalmente garantem esse espaço para si mesmos por meio de incansável insistência nos seus pontos de vista. Tendem a ser impacientes e sentem que a água os extinguirá e a terra os sufocará, mas são estimulados pelo ar.
Rejane Woltz Barbisan
Astróloga e Terapauta